Definir a situação atual é, ao menos pra mim, algo definitivamente impossível. Recorro ao léxico do confinamento, recorro às palavras de minha irmã. Fernandinha, do alto da sabedoria de uma criança de sete anos que tem estudado e falado sobre vírus, pandemia e higiene, definiu de forma inocente e precisa a forma como tudo vem caminhando. Em suas palavras: “tá tudo meio coisado, mas tá tudo bem!”
Como dizemos no meme vivo e popular: errada ela não tá. Tem sido difícil conviver com as paredes, com o silêncio das ruas, com a quantidade de gente mascarada indo e vindo, em pouca quantidade e sempre distantes uns dos outros. Parece que nos tiraram o calor nas relações, taparam os sorrisos e a única saída para derrotar algo minúsculo e invisível é lutando juntos, mas guardando uma terrível e dolorosa distância.
Tem sido duro viver recluso e adaptar toda uma rotina, toda uma vida, além de mudar tão radicalmente hábitos tão simples e fundamentais, como um chopp no boteco da esquina. Ainda mais complicado é explicar aos incautos que tentam romper com a ciência e o bom senso, achando que aqueles que guardam bom senso estão gostando dessa dura realidade.
Desviar-se um um pouco das notícias tem sido fundamental para a manutenção da sanidade. Também dói a preocupação com aqueles que sofrem de maneira ainda mais forte as porradas de algo tão minúsculo quanto destrutivo. Ainda que possamos ponderar a taxa de mortalidade do vírus, é impossível não compreender como seu maior efeito é na dinâmica social.
Telas, antes tão criticadas, são nossos maiores pontos de contato com tudo que temos de caro ou necessário lá fora. Família, amigos, amores. Tudo está ali, do outro lado da tela. Tão fácil de acessar, tão difícil ou imprudente tocar. Venho sistematicamente evitando planos e previsões. Quando muito, me debruço sobre algumas análises. Não sei quanto ao todo, não sei quanto ao mundo, mas eu já não sou mais a mesma pessoas de antes, e nem sei se isso é bom.
Parece chegada a hora de apertar o cinto, compreender que talvez o momento mais difícil não tenha chegado e priorizar a simples e confortante idéia de “sair do outro lado” de tudo isso o menos machucado possível. É possível que nossa guerra comece a se tornar uma guerra de segunda pessoa e que a gente veja alguém de nosso convívio enfrentando a COVID de frente. Ninguém segura a mão de ninguém, ok? Mas estaremos juntos.
É normal achar tudo muito estranho. Seja mais leve com você mesmo, não tem nada de errado por sua causa, tá tudo meio coisado mesmo, mas a gente vai poder se abraçar no final.