Vivemos um momento atípico na história da humanidade. Temos nos deparado com os mais diversos absurdos, a mais improváveis atrocidades cometidas e ditas pelas pessoas nos últimos tempos.
Tempos sombrios, estranhos.
Esses dias, logo na abertura do Jornal Nacional, o apresentador William Bonner foi sensato nas palavras, ao relatar o aumento expressivo do número de mortes por Covid-19, no Brasil. De 5.901 para mais de 8,5 mil em uma semana. Hoje, já passamos dos dez mil mortos.
Resumindo, Bonner disse que o número de óbitos aumenta tão rapidamente, que as pessoas não estão tendo tempo de “refletir sobre a gravidade dessas mortes”, ficando em luto apenas familiares e amigos próximos. E é nesse ponto que disse o que todos gostaríamos de ouvir, sei lá, do presidente da República, talvez: “Quando é assim, o baque só acontece quando quem morre é um parente, um amigo, um vizinho, ou uma pessoa famosa”. Esperar essas falas de quem idolatra torturadores é querer demais.
Nas redes sociais, sempre elas, não demorou para aparecerem os fiscais da dor alheia. “Mas, e quanto às mortes por homicídio? A Globo não fala nada?”. Primeiro que esse tipo de morte quase sempre teve destaque nos noticiários; segundo que o assunto do momento é outro e para quem não entende sobre a produção de um telejornal, não tem noção do que fala. Não quer dizer que uma morte tenha mais importância que a outra, todas são lamentáveis.
Teve também quem preferiu contrapor com o número de curados. Felizmente ele supera o de mortos, mas óbitos sempre vão chamar mais a atenção, principalmente quando se acumulam em velocidade descontrolada, e servem até como um alerta para a gravidade do problema, não porque o telejornal queira apenas explorar a desgraça dos outros. Quando a vida, bem mais precioso das pessoas, termina ou está em risco, o alerta deve ser dado noticiários sim, como forma de cobrança para que algo seja feito pelas autoridades competentes. Ou, neste caso, incompetentes.
Fora isso, tem os que preferem fazer carreatas, aglomerações em frente ao Palácio do Planalto, pedindo a reabertura do comércio por pura mesquinharia, egoísmo, sem se importar com o próximo, desmerecendo e desdenhando da doença. Colocando o interesse de seus bolsos em primeiro lugar.
Quando foi que as pessoas começaram a perder a compaixão pelo próximo? Ou será que nunca tiveram e agora só estão se sentindo mais à vontade para demonstrarem todo esse ódio, por vezes reprimido?
Está cada dia mais difícil manter a esperança na humanidade. No fundo, a gente não desiste por pura birra mesmo, ou por uma força de vontade que não consegue explicar de onde vem.
Mas, receio que quando isso tudo acabar – sim, uma hora vai passar – pouca coisa irá mudar. Quem é solidário, pensando de forma coletiva e adepto dos direitos humanos, permanecerá assim. Já quem é mesquinho e egoísta, sinto informar que esse já morreu por dentro. Venha a pandemia que vier.