Esses tempos atrás, navegando pelo catálogo da Netflix, me deparei com uma categoria chamada “séries com mulheres fortes”. Imediatamente, me peguei pensando: “ué, será que as outras mulheres são fracas?”.
Vocês vejam, a questão de problematizar as coisas é que é igual trair e coçar, é só começar. E aí o processo não para mais. Mas, continuemos em nossa linha de raciocínio.
Em incontáveis momentos da minha vida, as pessoas me classificaram como uma “mulher forte”, ou, pelo menos, uma mulher com “personalidade forte”.
Há diversas interpretações possíveis para esta frase, mas vou me ater ao sentido mais amplo mesmo.
Eu realmente não sei dizer se eu sou uma mulher forte. Mas sei que precisei sê-la em diversos momentos da vida. Não por ideologia ou por achar bonitinho. Mas porque o mundo me exigiu isso.
Sem querer parecer a feminista chata (e, bem, não tem como mudar o mundo sem incomodar ninguém), mas uma coisa é fato consolidado e comprovado: se você tiver nascido mulher, as coisas serão muito mais difíceis pra você.
Não porque você vai sangrar todo mês e seus hormônios vão quase sempre cagar com o seu dia. Isso aí a gente tira de letra, garanto.
Mas porque o nível de exigência do mundo para com você será sempre maior que para com um homem.
Tanto no âmbito profissional quanto em sua vida pessoal, você estará, sempre, sendo julgada e tendo sua capacidade e sua competência questionadas. Se você for competente no trabalho, terá de sê-lo em dobro, porque, só pelo fato de você possuir um par de cromossomos, X, irão duvidar de você.
Se você falar mais alto, de maneira mais enfática ou se você for – assim como eu – extremamente pragmática, irão te tachar de grossa, de mal humorada, de uma pessoa sem traquejo social. Enquanto que as mesmíssimas características são amplamente aceitas e – por que não dizer? – inclusive admiradas em homens.
Levando a conversa para o campo pessoal, não muda muito. Suas escolhas de vida serão sempre contestadas e julgadas – e eu já escrevi sobre isso anteriormente. Em resumo, eu costumo dizer, de maneira bem simplificada que: a vida do homem pertence ao homem, já a vida da mulher pertence à sociedade.
A sociedade se sente no direito (e até no dever, eu acho) de nos dizer o tempo todo como devemos nos portar, como devemos nos vestir, como deve ser nossa aparência, como conduzir nossos relacionamentos interpessoais, quais devem ser nossas escolhas e nosso modelo de vida e, é claro, temos que falar mansinho.
Ai de quem ousar não corresponder a todas essas expectativas alheias: certamente receberá um monte de adjetivos. E “mulher forte” ainda é um dos mais bonitinhos, acreditem.
O fato é que às vezes cansa ser uma mulher forte. Na verdade, cansa sermos obrigadas a ser fortes o tempo inteiro. Cansa ter de provar que você sabe de um assunto sobre o qual você sabe, porque as pessoas ficam duvidando de você e te inquirindo o tempo inteiro. Cansa ter de explicar pras pessoas por que você prefere usar o cabelo curto em vez de comprido. Cansa ter de elencar, toda vez, os motivos pelos quais você não quer ter filhos ou não se casou ainda.
Por esses e tantos outros motivos, do alto de todos os meus privilégios de mulher branca de classe média, que eu digo a vocês que a gente não quer ser uma mulher forte. A gente queria não precisar ser forte. A gente queria apenas ser. E ser deixada em paz.
[…] Afinal, como minha amiga e cronista Mayara Godoy apontou de forma cirúrgica em sua crônica Mulheres Fortes: a vida do homem pertence ao homem, já a vida da mulher pertence à […]
[…] para os homens que somos tão boas quanto eles. Que somos tão competentes, inteligentes, capazes, fortes, independentes, hábeis e corajosas quanto […]
[…] DRs não precisam te deixar duvidando do que você acredita e sente que está passando. Se impor não é sinônimo de ser escrota. Exigir o mínimo que acha que tem direito não é querer demais. […]