Cerveja, Mulher e Futebol Sem meias palavras

As mulheres estão cansadas

Escrito por Rose Carreiro

Se você está cansado da rotina, do trabalho, dos absurdos da sociedade e da política, imagine como estão as mulheres.

As mulheres estão cansadas. Eu estou cansada de ser mulher. E não é só porque assumimos jornadas múltiplas cuidando de casa, família, carreira, relacionamento e ainda temos de manter a depilação em dia. Estamos cansadas porque vivemos correndo atrás do prejuízo em todas as áreas em que os homens já nascem estabelecidos. 

Se você é mulher – ou é negro, LGBTQ+, ou de alguma minoria – já sabe do que estou falando. Se não é, talvez não tenha reparado ou prestado atenção, mas a gente sempre está numa maratona: por direitos, por liberdade e por reconhecimento. Vivemos em 2019, e me cansa afirmar que não ainda somos tratados como iguais. 

Basta um breve exercício de observação para entender o sentimento: cada vez que se fala de uma mulher ocupando um alto cargo, ela ainda é vista com curiosidade ou como raridade, já que o normal são os homens no poder. Repare que não faz muitas décadas que falamos de mulheres de destaque nos esportes. Aqui no Brasil, por exemplo, há 40 anos, a prática do futebol feminino era proibida. Isso pra não falar das tantas mulheres pouco divulgadas na Ciência.

Uma busca rápida na Internet lhe trará estatísticas comprovando o quanto as mulheres estudam mais, trabalham mais, se desdobram em mais tarefas, ganham menos, são menos reconhecidas ou respeitadas. Somos nós, lá atrás na classificação, esbaforidas e gastando tudo o que temos para que, quem sabe, um dia, as próximas gerações de mulheres não tenham que passar por isso.

Se é chato pra quem não é mulher ter que nos ouvir a respeito poder sobre o próprio corpo, equidade salarial e espaço no mercado de trabalho, imagine pra gente, que está cansada de ter que falar disso – e muitas vezes não ser levada a sério. Imagine como é difícil pra gente, que deixa de sair na rua de shorts sob o risco de ser assediada; que tem até o útero submetido à decisão alheia. Imagine como é triste pra gente ler daquele ministro que alguns homens recorrem à violência contra as mulheres por se sentirem intimidados.

Imagine como é extenuante ter que sempre provar que é capaz, que é forte, ou até – olha que loucura! – ter que provar que não é louca. E como é absurdo pra gente ver uma mulher se tornar destaque na Ciência, nas Artes, na Política, no Esporte, e logo ter uma legião diminuindo seu reconhecimento – apenas porque ela é uma mulher. 

Não vou fazer aqui um manifesto de ódio aos homens. Nem se trata de uma guerra dos sexos. Nós não ambicionamos dominar o mundo. Não estamos lutando para ultrapassar a linha de chegada do poder em primeiro lugar – só queremos viver em pé de igualdade. E, lamento dizer, sequer posso falar por todas as mulheres, porque conheço muitas que não acreditam nessa disparidade. Mas ela é real, e é com o coração exaurido que declaro: eu estou cansada de ser obrigada a viver assim.

Créditos da imagem:   Kristopher Roller - Unsplash 

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.