Já faz um tempo que o termo “bolha” tem pairado nosso imaginário. É como se cada um fizesse parte de uma bolha, que divide com outras pessoas que convivem juntas, consomem ou se interessam por determinadas coisas, etc.
E, agora na pandemia, parece que as bolhas foram ainda mais escancaradas e a palavra tem se encaixado em mais possibilidades.
Pode ser a bolha que vestimos antes de sair de casa. Máscara no rosto, álcool em gel nas mãos, “fique longe, por favor”. Fala sério: se você pudesse também adoraria, de fato, ter uma bolha para entrar e ficar mais seguro no supermercado. Eu super teria, ao melhor estilo Jimmy Bolha.
A bolha extrapolou as redes sociais – aquela de quando a gente diz que não viu ninguém defendendo o uso da cloroquina, por exemplo, porque ninguém da nossa bolha é idiota assim – e passou a ser também “quem é você na quarentena”.
Se você está em casa há mais de 70 dias, evitando contato com outras pessoas, saindo em situações de emergência ou para coisas essenciais, você está em uma mesma bolha que eu. Às vezes, parece que só a gente faz parte dessa bolha. A gente se sente um tanto idiota quando precisa sair na rua e vê que as pessoas estão vivendo a vida normalmente, ou quando o vizinho babaca faz festinha com os amigos até de madrugada.
Neste mesmo patamar, tem a bolha dos que não acreditam na pandemia. Eles vivem em um universo onde a covid-19 é uma invenção, é coisa da “extrema mídia” para acabar com o “mito”. Tem gente dessa bolha que ainda está dentro de algumas outras, como a daqueles que, por exemplo, acreditam que a terra é plana.
Em outra bolha, estão aqueles que encaram a pandemia de frente. Pessoas que trabalham nos hospitais e veem morrer gente todos os dias por uma doença que só algumas bolhas respeitam ou temem. Essa bolha tem sofrido ainda mais com tudo o que está acontecendo, mas como estão ainda mais isolados, pouca gente percebe.
Ainda, neste momento de tantos acontecimentos, tem a bolha dos que estão cansados de sentirem na pele que suas vidas não importam tanto quanto outras para muita gente. Essas pessoas tem precisado escancarar verdades para as bolhas que não acreditam no sofrimento delas como, em um exemplo, para a bolha do “racismo não existe”, e bater – se possível queimar – a bolha nojenta dos que são, de fato, seus algozes.
Com a pandemia, percebemos mais como as bolhas estão, realmente, presentes na sociedade. Como a falta de empatia faz muita gente ficar presa na sua bolha de achismos e preconceitos; como a maldade, pura e simples, faz com algumas bolhas ataquem outras de formas vis; como a impotência torna algumas bolhas tristes e incapazes de saber o que fazer para reagir.
No fundo, as bolhas nada mais são do que as paredes com que nos cercamos para encarar a existência. Resta a você definir em qual delas quer fazer morada.