Crônico Repórter Sem meias palavras

Em defesa dos jornalistas

Escrito por Bruno Zanette

As pessoas podem até não gostar da linha editorial de determinado veículo de comunicação, mas isso não lhes dá o direito de ofender, insultar, intimidar ou ameaçar os profissionais da imprensa.

Vivemos tempos difíceis, isso você já deve ter percebido não é de hoje. Vou direto ao assunto e falar logo de cara sobre a minha profissão e também profissão de alguns outros colegas aqui do Crônicas de Categoria, a tão massacrada e desacreditada (por alguns) profissão de Jornalista. Assim mesmo, com J maiúsculo, pois ainda acredito nessa atuação e a seguirei defendendo. Os que desacreditam, tenham certeza que em algum momento, quando o interesse lhes era favorável, chegaram a acreditar e confiar na informação repassada por esse ou aquele profissional.

Recentemente o jornal Folha de S. Paulo e o Grupo Globo anunciaram a suspensão, por tempo indeterminado, da cobertura presencial da área externa do Palácio da Alvorada, onde o Presidente da República costuma diariamente passar e atender apoiadores e ofender jornalistas, profissionais da imprensa que estão lá trabalhando. O motivo da suspensão é a falta de segurança, não oferecida por quem deveria, e o aumento das ofensas e agressões verbais, ameaças e intimidações do grupo vestido de verde e amarelo, num pseudopatriotismo, o qual nem deveria estar por lá, idolatrando político. Político não se idolatra, cobra-se.

A polarização política que vem acontecendo no país nos últimos seis, sete anos, acompanhada de uma onda e propagação de notícias falsas, de fontes duvidosas, fez com que boa parte da população se ofendesse com notícias que mostram a dura realidade de alguns de seus políticos de estimação. Quando a notícia era desfavorável à oposição, o veículo de comunicação prestava para essas pessoas. Quando a situação se invertia, a mídia passava a ser “comprada”, com suas próprias “ideologias”. Ou, “mídia comunista”, como dizem alguns.

William Randolph Hearst, jornalista nos Estados Unidos nascido no século 19, disse a frase que, na minha visão, é a que melhor define a profissão. “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade”. O Jornalismo não existe para agradar. Sua função é informar da maneira mais precisa possível. É feito por pessoas que, sim, às vezes erram, corrigem e a vida segue.

Existem dezenas de canais de televisão, emissoras de rádio, jornais impressos, sites de notícias na internet para você escolher o melhor conteúdo que quer absorver. Se não gosta da linha editorial de A, mude para B, C, a letra que quiser, mas contenha-se no seu ódio. Liberdade de expressão não lhe dá o direito de ofender, insultar, ameaçar, intimidar, tomar qualquer atitude que limite a liberdade do outro. Ainda mais quando o outro está na linha de frente, trabalhando para tentar levar a melhor informação possível ao público.

Não gosta de determinada emissora, rádio, site ou jornal? Ok, boicote-os, informe-se por outros meios. Só não tente desmerecer a notícia dada por determinado veículo, só porque não agrada a você. Você tem raiva dos donos, não dos jornalistas que, além de exercerem a função, cumprem ordens.

Em participação recente no programa Conversa com Bial, o apresentador e editor-chefe do Jornal Nacional da Rede Globo, William Bonner, revelou que há uns dois anos tem evitado sair de casa e, quando o faz, é de carro. Inclusive em viagens que poderia ir de avião. Tudo por conta de pessoas se sentirem no direito de atacá-lo com as piores palavras possíveis. Nem mesmo a uma padaria ou ao cinema consegue ir com tranquilidade. Isso, claro, antes da pandemia do coronavírus. O mais bizarro foi a revelação que fez de que cometeram estelionato com o filho dele, apenas pelo prazer de prejudicar o apresentador do principal jornal do país, “culpado” de cumprir sua função que desagradou alguns. Alguns estes que até poucos anos aplaudiam as notícias do Triplex e do Sítio de Atibaia.

Eu pergunto a vocês: é justo isso que estão fazendo com profissionais da imprensa? Eu mesmo respondo: não, não é. Se você comemora quando jornalistas são ofendidos ou intimidados, sugiro procurar tratamento médico, porque isso não parece ser normal.

A situação só se agrava porque o representante desses militantes incentiva, quando poderia controlar seus seguidores, pedindo para que parassem. Já que seguem tudo o que ele tem falado, talvez até pudesse funcionar. Só que ao contrário disso, dia após dia ele dispara os mais variados impropérios.

Não peço que se solidarize com nós, jornalistas. Não estamos pedindo compaixão. Apenas que tenham respeito, educação, um pouco de dignidade. Agredir a imprensa é agredir a democracia. Deveria ficar feliz por estar sabendo dos principais fatos do país e do mundo. Em um regime ditatorial, a imprensa acaba sendo um dos primeiros setores a serem controlados.

Sobre o autor

Bruno Zanette

Jornalista nascido e formado em Foz do Iguaçu-PR. Adora falar e contar histórias, por isso o rádio foi veículo onde mais trabalhou. Mas é na escrita onde costuma se expressar melhor. Gosta de um bom rock, livros, filmes e esportes (assiste bem mais do que pratica). Torce e sofre pelo Grêmio, não exatamente nessa ordem. Apesar de bem-humorado, gosta de piadas de humor bem duvidoso, e acha que a melhor maneira de rir é de si mesmo. Por isso, acredita que a própria vida poderá servir de inspiração para boas crônicas e contos. E tudo o mais que vier na telha para escrever.

Comente! É grátis!