Voltei pra quarentena. Sim, até semana passada, eu estava saindo de casa pra trabalhar naquele esquema do horário restrito. Vivendo numa falsa normalidade, obedecendo às regras pandêmicas, ainda que com medo de coronar pelas calçadas da Gleba Palhano, mas tava. Daí, veio o decreto do governador do PR, que me pôs de volta no isolamento do lar, doce lar. Eu, sozinha, nesses 45m² de pura contemplação, ouvindo o vento uivando diariamente – ele agora tem nome, é o Eólico – e sentindo cheiro de cigarro que vem do apartamento vizinho todas as noites.
Desci, depois de quatro dias sem por meu nariz na rua, pra fazer a feira, já que tem uma aqui na pracinha em frente ao prédio. Consiste em uma kombi que vem três vezes por semana, com os vegetais que a gente é obrigado a comer, mas que também vende aquele biscoito Santa Clara, e é por isso que eu vou lá. Mas, até na kombi do hortifruti tem aglomeração. Tem gente chegando perto demais. Tem conversa fiada (Você quer comprar máscara? Ah, você que faz as suas? Você também faz patchwork?). Eu mantenho a distância, mas tudo ao redor indica que um grande foda-se foi ligado e a vida segue normalmente.
Já não me surpreende ver que, ainda que o comércio tenha sido impedido de abrir por 14 dias, a loja de porcelana esteja com a vitrine escancarada. Vários carros na porta. Risco de multa? Olha o botão do foda-se aí. A julgar pelo trânsito e pelo volume de pessoas apressadas pelas calçadas, tem muita gente na rua. Muita mesmo. Domingo teve buzinaço e uma doida no megafone anunciando que Londrina não pode parar. O mesmo slogan de Milão, rá!
Subi no elevador, que está com o compartimento de álcool gel vazio hoje. Reflexiva, mas não mais chocada com o nível de “que se dane esta merda toda” das pessoas. Voltamos pro isolamento – eu, minha bandeja de mandioca salsa, conhecida também como batata baroa, e meus biscoitos de Santa Clara, que eu não sou tonta.
Obedeci ao decreto, e agora espero a pandemia passar, a vacina chegar, ou a gente morrer tudo. O que vier primeiro, eu tô aceitando.