Texto enviado pela leitora Ariane Fagundes Braga
Acredito que esta pandemia tenha trazido várias reflexões às vidas de todos nós.
Particularmente, para além de qualquer discussão que envolva temáticas relativas à saúde, política ou economia, devo começar pontuando que estou bem e que é um privilégio que eu possa exercer as minhas atividades profissionais em casa. Já estive doente e hospitalizada, sei o quanto é importante que tenhamos saúde, antes de qualquer outra coisa em nossa vida.
Entretanto, para evitar qualquer discussão polêmica, gostaria que pensássemos o quanto estamos vivendo no “modo pausa”, como se tivéssemos pausado aquele filme que queremos continuar vendo mais tarde, mas que não temos tempo agora.
Quantos planos você teve que adiar nesta pandemia? Quantos projetos ficaram para mais adiante? Quantos encontros tivemos que deixar para depois? Quantas pessoas novas gostaríamos de ter conhecido? Quantas viagens tínhamos em mente? A minha primeira reação diante de todas essas frustrações foi a de revolta, confesso. As primeiras semanas em casa foram as mais difíceis.
Eu iniciei 2020 com o pé esquerdo por várias razões, mas, nem em meu pior pesadelo, eu imaginei que passaríamos por uma pandemia e que eu estaria fechada em casa por cinco meses. O isolamento social iniciou algumas semanas antes de uma viagem internacional que eu tinha muita expectativa e vontade de fazer (e que eu estava planejando desde janeiro).
Novamente reitero que é louvável salientar que estou com saúde e no conforto da minha casa, mas, e a vida lá fora? Gostaria de ter feito as viagens que eu planejava fazer, gostaria de seguir minha rotina de trabalho e de exercícios, queria poder ir ao supermercado e às lojas de roupas escolher algo novo para usar no final de semana, quem sabe em um barzinho ou em um restaurante com amigos. Tudo o que fazia parte do nosso cotidiano (quase que de forma automática), há pelo menos quatro meses, já não faz mais. Agora eu faço compras pela Internet e recebê-las em minha casa é um cansativo e árduo trabalho de limpeza e de desinfecção.
Mantemo-nos “entre la espada y la cruz“, todo o tempo entre o binarismo de julgarmos as atitudes certas e erradas diante da pandemia. Confesso que eu também virei uma vigia de quarentena, reparo quando os vizinhos saem de casa, observo, da sacada, quantas pessoas não estão usando máscara na rua. E reparo quantas pessoas estão passeando e fazendo festa no final de semana por meio das fotos publicadas por elas mesmas no Facebook. A fase da negação e da revolta já foi superada.
Pensava que em setembro tudo estaria bem eu poderia viajar em meu aniversário (projeto que também está cancelado) e aproveitar um dos meus períodos de férias do ano. Mas outra onda de frustração chegou, dessa vez com menos revolta.
Pergunto-me se todos sentem que estão com a vida em pausa, como eu. Talvez muitos não, pois continuam circulando pelas ruas e ignorando solenemente o que estamos vivendo. Quem sabe eu esteja apenas escrevendo devaneios provenientes de uma cabeça (e de um corpo) que não sai do mesmo espaço há quase cinco meses. Mesmo assim, queria deixar uma pergunta aos leitores desses devaneios em forma de letras: alguém sabe como usar o controle remoto e adiantar um pouco tudo isso para que possamos viver livres novamente?