Gabinete do Ódio

Máscara

Escrito por Leandro Duarte

Ser mascarado já foi sinônimo de arrogância. Hoje é sinônimo de empatia. Não ouça o presidente, use máscara.

De onde eu venho, um sujeito mascarado é um sujeito arrogante, egoísta, que não dá importância aos mano do lado. Em resumo, ser mascarado é ser um grande cuzão.

Quem diria que 2020 e essa situação toda iria basicamente inverter o sentido dessa expressão? Em tempos de pandemia, ser um mascarado é o mínimo que a gente espera de qualquer pessoa com algum discernimento. É o mínimo que se espera de alguém que se importa com a sua própria saúde e com a saúde dos que estão à sua volta. Hoje em dia ser um mascarado é legal.

Confesso que a utilização de máscaras é talvez a característica de nosso tempo que mais me impacta. Sair às ruas e ver a maioria das pessoas com máscaras me afeta de uma forma que definitivamente não consigo explicar. É um sentimento estranho de estar vivendo um filme, uma situação que eu jamais imaginaria viver, em que todos precisam se defender de algo que não podemos ver, de algo que pode estar em qualquer um, em qualquer lugar. É muito doido.

A utilização de máscaras é obviamente necessária no momento que vivemos, é nossa melhor forma de proteger a nós mesmos e as pessoas que amamos. Negligenciar o uso de mascaras não é um opção, a não ser que você seja um filho da puta de um arrombado do caralho.

Por falar em ser um filho da puta, arrombado do caralho, semana passada, aquela Mula maldita que ocupa, por conta um acidente inexplicavelmente terrível, o cargo de presidente desse país, impôs 17 vetos à lei das máscaras, lei essa que regulamenta a utilização de máscaras durante o período de pandemia em todo país. É bizarro mas é real.

Entre vetos, a mula com a faixa da Presidência retira a obrigatoriedade da utilização de máscaras em estabelecimentos comerciais, industriais, templos religiosos e instituições de ensino. Sim, aquele imbecil retirou a obrigatoriedade de utilização de máscaras justamente nos ambientes com maior potencial de espalhamento da doença, afinal de contas, todos vamos morrer né, como diria o tal jornalista liberal, os velhos precisam se sacrificar.

Enquanto vivemos o início bastante precoce da flexibilização da quarentena, o prefeito pastor afirma que as crianças são imunes, discurso super alinhado com o demônio de Brasilia, escolas abertas e sem máscaras, receita de sucesso para a doença.

É foda, enquanto passamos da marca de 1,6 milhões de infectados e 64 mil mortes, vemos o governo trabalhando fortemente para aumentarmos esses números, vemos a irresponsabilidade daqueles que deviam, com a grana dos nossos impostos, proteger os mais vulneráveis, vetar a obrigatoriedade do patrão fornecer máscaras para os funcionários e a obrigatoriedade do Estado fornecer máscaras a quem não tem condições de comprar a sua.

É foda, mas a gente precisa continuar firme, gritando, mandando esses vermes à merda e usando máscaras sempre, por nós e pelos nossos. Esteja firme, precisamos da sua voz, ainda que abafada pela máscara. Juntos, mesmo que a distância.

Não ouça o presidente.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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