Amor é prosa

Sozinhos a dois.

Escrito por Breno Amaro

Duas portas, lado a lado. Dois estranhos que já se conhecem tão bem.

Ela morava no 155 há alguns anos, enquanto ele tinha se mudado há pouco tempo pro 156 e, por isso, nunca tinham se visto.

Ela sabia que ele acordava às 6h pra malhar dentro de casa pelo barulhos dos halteres, enquanto ela tentava fazer sua yoga e sua homenagem ao sol em silêncio no mesmo horário.

Ele sabia que ela gostava de ouvir Caetano Veloso durante o home office, enquanto ele passava o tempo todo fazendo tantas calls, que mal tinha tempo de ouvir música.

Ela sabia que ele tinha um cachorrinho, porque ouvia os latidos sempre que chegava no hall do elevador, enquanto ela tinha um gato que sempre quebrava um vaso ou copo não guardado.

Ele tinha o cabelo castanho e mal cortado que ela viu por um microssegundo pelo olho mágico, enquanto ela tinha cabelos lindos, mas que jurava que precisava cortar, mesmo com medo de ir ao salão e pavor de tentar fazer sozinha em casa.

Ela pensava em como seria conhecer uma pessoa que ela já conhecia tão bem, enquanto ele já pensava que vinho ele serviria com aquela lasanha vegetariana (será que ela é vegetariana?) no primeiro jantar dos dois.

Ele ficou na dúvida se a receberia de camiseta, bermuda e chinelo pra ser despojado ou camisa, calça e tênis, para ser mais elegante, enquanto ela já sabia qual era o vestido certo para derrubar o queixo dele.

Ela sabia que ele estava cumprindo as regras de isolamento social desde o começo da quarentena, enquanto ele tinha certeza que ela só saia de casa para ir ao mercado e limpava até as dobrinhas das caixas de leite.

Ele tomou coragem de ir bater na porta dela, botou a máscara, respirou fundo e abriu a porta, enquanto ela já estava na porta dele, de máscara, com uma garrafa de vinho branco.

– Oi.

– Oi.

Sobre o autor

Breno Amaro

Oi, eu sou o Breno. Carioca, redator, flamenguista, fã de surf, do Philadelphia Eagles e de Cavaleiros do Zodíaco. Faixa preta em Mortal Kombat e bi-campeão do World Series of Pavê 2015-16, comecei a escrever porque nunca aprendi a desenhar. Eu me fantasio de Ryu, de Ivan Drago e de Tigre no carnaval. Uma frase? “Trabalhe com o que ama e você nunca vai precisar trabalhar na vida, porque vai morrer de fome”. Escrevo sobre tudo o que passa na minha cabeça, sobre tudo que acontece na minha vida e, sobretudo, sobre nada. Meu cachorro se chama Bolinho.

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