Gabinete do Ódio

Aborto

Escrito por Leandro Duarte

Não, a criança que interrompe parte de sua tragédia não é o que combatemos aqui. Combatemos o abandono paternal, esse sim destrói vidas.

Pega a visão, playboy.

Uma criança é violentada desde os seis anos, o verme é tio da menina, e por meio de ameaças exige seu silêncio . Aos dez anos, após dar entrada no hospital com dores abdominais, através de um exame de sangue se descobre grávida do verme que há 4 desgraçados anos a violentava.

Essa criança vê sua tragédia exposta ao mundo, e vê um par de filho da puta, carniceiro, falar merda. Essa criança teve seu direito ao aborto negado em seu estado, teve de viajar em meio à pandemia para interromper legalmente sua tragédia, sob o grito das hienas. Foda-se. Agora é caçar aquele verme no inferno e proteger essa criança. Fim da história.

Você, que de alguma forma condena o direito constitucional que essa criança tem de interromper sua tragédia, vai se foder, que sua morte seja lenta e o mais dolorosa possível, que apodreça, tal qual sua moral.

O aborto sobre o qual eu realmente quero falar é outro, mano. O “aborto”, ou melhor dizendo, o abandono paternal, é uma epidemia que todos temos de combater. Segundo o Censo Escolar de 2013, realizado pelo Conselho Nacional de Justiça, mais de 5,5 milhões de crianças matriculadas em escolas não possuem o nome do pai em seus registros de nascimento.

Mais que um número da porra de um censo de 7 anos atrás, o abandono paterno é uma história que todo mundo conhece. Todo mundo conhece uma tia que criou vários filhos sozinha, trabalhando em casa “de família”. Quantas minas não precisaram carregar sozinhas o peso da gestação e da criação de um uma criança? Tenho certeza que você conhece uma história dessas.

Esse é o aborto que a gente tem que combater, parceiro. É esse abandono que objetivamente destrói vidas e acaba com as famílias da nossa quebrada.

Vagabundo nunca tem dinheiro pra pensão, mas o combo na balada tá sempre trincando. A mina é sempre vista como aproveitadora, como se quisesse viver da pensão do filho – o dinheiro mal paga as fraldas e a criança chora pedindo leite. E é isso, dia após dia.

Passear no shopping de quinze em quinze dias e garantir a foto no insta com a criança parece bastar pro cidadão de bem. Malandro, isso tá longe de ser pai, tá longe de ser o mínimo, tá longe de ser digno.

Desejo paz e privacidade à criança do primeiro parágrafo. Desejo novamente a morte lenta aos seus algozes. Desejo que todos combatam o abandono paterno. Desejo e espero que os senhores sintam ódio por todo comportamento que condena a vítima e ignora o agressor.

E fora Bolsonaro.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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