O cérebro humano, superior ainda ao mais potente computador do mundo, é capaz de formar sinapses com uma riqueza de detalhes assustadora.
Ainda que, às vezes, pareça que estamos perdendo a batalha para a Google, nenhuma inteligência artificial, até agora, é capaz de nos proporcionar as mesmas percepções que nosso próprio querido cérebro.
Segundo a neurociência, nossa memória é seletiva. Para que possamos nos lembrar de algumas coisas, precisamos esquecer de outras. E é por isso que o sono de qualidade é tão importante. É quando dormimos que nosso cérebro processa e organiza as informações, e faz sua “faxina”, deixando algumas coisas para lá. Por outro lado, as memórias importantes solidificam-se ainda mais na nossa mente.
Prova disso é nossa capacidade de nos lembrar com abundância de detalhes sobre momentos e situações muito marcantes em nossa vida. E de, mesmo muitos anos depois, conseguirmos nos recordar com exatidão onde estávamos, com quem, em que ocasião, e até com que roupa, quando ouvimos uma determinada música pela primeira vez, por exemplo. Quem nunca pegou absoluto trauma de uma determinada canção por causa da pessoa que a apresentou, ou por alguma situação que viveu com aquela trilha sonora?
Por outro lado, há também aquelas músicas que sempre são capazes de nos trazer boas recordações, e as ouvimos sempre que precisamos de um alento, ou queremos nos sentir melhor. E as que ouvimos para rememorar uma época boa da qual elas foram a trilha sonora. A música é capaz de nos proporcionar todas essas – e muitas outras – emoções. Pode nos inspirar ou nos castigar. Tudo depende do que o seu banco de dados interno tem armazenado e catalogado.
Tem músicas – ou álbuns, ou bandas – que nos lembram uma pessoa específica, e este parece ser um processo irreversível. Para o bem e para o mal. É muito bom quando você gosta muito de uma música e ela te lembra uma pessoa de quem você gosta muito também, e você pode mandar aquela música para a pessoa e dizer: “me lembrei de você”.
Por outro lado, é uma absoluta tortura quando você não pode sequer ouvir o primeiro acorde de uma música que também te lembra alguém de quem você já gostou muito mas, pelo motivo que for, para quem hoje em dia não pode mandar a música e dizer que se lembrou dela. Aí, só resta mesmo deletar a música da playlist até o dia em que seu cérebro resolver a questão toda e parar de fazer esta associação dolorosa.
Eu, como muitos de vocês sabem, sou a louca das playlists, então eu organizo minhas músicas com base em temas diversos: Músicas para dia de chuva; Músicas para quando estou cozinhando; Músicas para se ouvir numa tarde tranquila tomando café; Músicas para ouvir trabalhando. Mas, a playlist que eu gostaria mesmo de fazer é: “Músicas para esquecer”, para que eu pudesse ter a opção de ouvir de novo pela primeira vez, sem as memórias associadas a uma determinada situação ou pessoa. (principalmente pessoa, sejamos francos)
Enquanto isso não é possível, porém, só nos resta tentar formar novas memórias, conhecer novas músicas e pessoas, e viver novos momentos. E rezar para que estas novas lembranças substituam, aos poucos, aquelas antigas e desconfortáveis. Ou, então, torcer pela Skynet logo de uma vez.