Overwhelmed é uma das minhas palavras favoritas do Inglês, dessas cujos som e significado me aprazem. Queria que em Português houvesse algo que traduzisse esse sentimento sem o peso do termo sobrecarregar. Deliberadamente, então, escolhi usar a expressão “ressaca emocional” para definir tal estado.
A ressaca emocional pode ser detectada entre as covinhas de um sorriso que não se fecha por horas. Nos riscos das rugas de olhos fechados quando uma memória boa vem à cabeça. No eriçar dos cabelos da nuca cada vez que se fala de um momento sublime. É um transe que vai e volta, com picos de felicidade, prazer, nostalgia, e até uma tristeza de saudade – do que, dessa vez, a gente viveu. E ela pode durar.
Corre pelas mãos um formigamento. O sono demora a vir, a cabeça dá voltas e desliga do cotidiano pra se conectar a um mundo de lençóis macios, toque sedoso e cheiro gostoso. E os sons simples, como o ronronar da gata, transbordam o coração de uma sensação reconfortante. Dá até pra duvidar do merecimento de novo.
O barulho da rotina fica menos irritante. A insônia dá mais tempo pra sonhar acordada. A gente fala sozinha, ri sozinha, e é só fechar as pálpebras para enxergar bons momentos experimentados sob uma pele despida de prisões sentimentais. A ressaca emocional é feita de gotinhas inebriantes que enchem nossa taça de uma edição limitada e arrebatadora do “se sentir viva”.
Mas, como diria minha vó: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe. Uma hora, essa ressaca emocional vai passar. O efeito vai se abrandando, os conflitos e os boletos vão diluindo o sabor doce dessas pedrinhas de delícia. À boca, só lhe resta querer sentir o gosto desse néctar de novo.
A vida não pode ser sempre uma embriaguez de emoções dilacerantes. Os pés devem de novo ser fincados no chão da realidade. E o fígado, pra não dizer o coração, precisa de um pouco de amargor pra equilibrar tanto doce. Contudo, ainda fica sempre a vontade de mais uma dose.
[…] Meu olhar se mantém caído – o da Emily Blunt nas fotos também, seguimos sem intervenções cirúrgicas, eu e ela. Eu acho. As rugas se aprofundaram e são mais vistas agora, felizmente, porque carrego, além de linhas de expressão, mais sorrisos diante dos pequenos momentos sublimes. […]
Você merece, embriague-se à vontade.
Ouuun, obrigada!