Divã-neando

Mereço?

Escrito por Rose Carreiro

Você também duvida se é digno de tudo de bom que te acontece? Eu sempre me pergunto se eu mereço. A resposta deveria ser sempre sim.

De todas as atipicidades que 2020 me trouxe, uma se revira em mim: a da busca pela felicidade. Por momentos felizes. No que talvez seja o pior ano deste século, eu fui feliz. Sigo sendo, em pílulas esporádicas de feitos e desfeitos.

Ainda que essa virada de chave tenha me custado um preço que não foi fácil pagar, aprendi ao longo desses meses que quase tudo pode ser recuperado. Menos o tempo. Então, venho correndo atrás do prejuízo e procurando o que me preenche e me dá vontade de viver.

Porém, se tristeza não tem fim e felicidade, sim, sempre que passa a euforia e o coração desacelera, o fantasminha da insegurança aparece. Me amedronta e me faz pensar se eu realmente mereço. 

Não sei se foi por ter vindo de um lugar menos favorecido, fazendo muito por curiosidade ou vontade de aprender, me dou recompensas quando evoluo. E, muitas vezes, logo julgo estar numa vida de pequenos confortos que talvez eu não devesse. 

E, se me arrisco e “meto as caras” em algo que não estava ao meu alcance, e tenho algum sucesso com isso, penso que talvez haja outros tão mais preparados, que merecem mais do que eu.

Enquanto escrevo essas linhas e Hilda, a gata, resmunga e balança o seu elegante rabo aos pés da minha cama, um calorzinho me enche o coração. Eu, que depois de tanto tempo querendo ter um bichinho, encontrei numa felina peluda mais uma partícula de felicidade, já acho mais uma vez que tenho mais do que mereço.

Quando me sinto livre e me sinto eu, me jogo num precipício de entrega. E voo. Mas, depois da descarga de serotonina, o sentimento de que o que é bom é efêmero e as notícias do mundo logo me colocam um cabresto. E novamente acho que ganhei muito mais do que eu mereço. 

Mas todo mundo merece. Ninguém precisa viver uma vida morna. Todo mundo pode querer mais, querer ser feliz. E sentir que é merecedor, sem culpa. Porque a vida tem que ser mais. E, ainda que volta e meia eu mesma duvide disso, eu mereço o bem que me acontece. E você também.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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