Pensamentos crônicos

Vote João das Couves

Escrito por Guilherme Alves

Querem levar a política a sério? Comecem pelos nomes dos candidatos.

As eleições municipais se aproximam, e, com elas, a enxurrada de candidatos com nomes estranhos. Coisas como Fulano da Farmácia, Roberto o Voto Certo, ou Dra. Fulaninha Quer Seu Bem. E aí, tal como aquelas respostas erradas do Enem, a gente ri, mas com um pouquinho de preocupação, porque, além de tudo, se essas peças são eleitas, vão usar esses nomes durante toda a legislatura. E aí tome “o projeto de Lei de autoria do vereador Zé da Pinga…”.

Talvez seja uma característica do brasileiro. Afinal, é só ver o futebol: enquanto, no exterior, temos George Best, Just Fontaine, Diego Maradona, aqui temos Pelé, Zizinho, Cafuringa. Brasileiro adora um apelido, então um candidato chamado Batman Wolverine tem mais apelo do que se usasse seu nome verdadeiro, até porque há uma grande possibilidade de ele se chamar Clegisvaldo Salustiano – e absolutamente ninguém, nem os amigos íntimos, saberem disso.

Recente levantamento revelou que, dentre os mais de 540 mil candidatos a vereador em todo o Brasil, temos Hulks, Zeus, Capetas, Tiriricas, Obamas, Trumps, uns 185 Lulas e 84 Bolsonaros. Teremos candidato do axé, do gato, do vôlei, do Flamengo, e até da van. Dentre as “profissões”, teremos da padaria, do açougue, da sorveteria, do posto, da mecânica, da peixaria, da feira, e nada menos que 1.357 que são “do bar”. 18 têm Prefeito no nome, sendo que 11 são candidatos a vereador. E, pasmem, 84 candidatas se lançaram como Mulher/Esposa do Fulano.

Além desses sem noção, cerca de 4.300 têm Pastor no nome, cerca de 200 têm Padre, e cerca de 500 têm Missionário. E nada menos que 8.262 têm algo no nome que remeta à polícia ou às forças armadas, como General, Major, Sargento ou até o puro e simples PM – sem contar uma meia dúzia que decidiu incluir a palavra Pistola no nome. Já Professor, profissão que está mal vista pela sociedade por estar querendo ficar em casa durante a pandemia, teremos menos de mil.

Antigamente, se dizia que esses nomes estranhos eram registrados porque não podia haver dois candidatos com nomes iguais, o que até fazia sentido, porque, no voto de papel, era possível escrever o nome do candidato na cédula, e aí, se houvesse dois com o mesmo nome, como saber a qual computar? Atualmente, entretanto, o voto é feito por número, e não há números repetidos. Talvez fosse a hora de se repensar esse modelo, que já virou motivo de chacota, e obrigar cada candidato a concorrer com seu próprio nome. Vamos ter problemas no começo? Sem dúvida. Mas talvez as pessoas levassem a política mais a sério se não tivessem de votar num cara chamado Juvenal Cloroquina.

Sobre o autor

Guilherme Alves

Nascido numa tarde quente de verão no Rio de Janeiro, casado aparentemente desde sempre, apaixonado por idiomas (se pudesse, aprenderia todos). Professor de inglês porque era a única profissão que parecia fazer sentido, blogueiro porque gosta de escrever desde que a Tia Teteca mandava fazer redação. Coleciona DVDs, tem uma pilha de livros que comprou mas ainda não leu maior que uma pessoa (de baixa estatura) e um monte de jogos de tabuleiro que não tem tempo de jogar. Fanático por esportes, mas só para assistir, porque é um pereba em todos eles. Não se pode ter tudo na vida.

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