Pensamentos crônicos

Férias

Escrito por Leandro Duarte

Liberdade cantou! Depois de quatro anos, eu sou livre para férias. Mas o mundo tá acabando e só quero os olhos azuis de minha mãe.

Mano, essa é a minha última semana de trabalho antes das férias, e já tem umas três semanas que eu só penso nessa porra.

Nos últimos quatro anos desta nossa pungente democracia, em função de algumas trocas de trampo, acabei deixando de lado em minha vida essa pouca vergonha que os esquerdistas inventaram pra dominar nossas mentes ociosas. São quatro anos sem férias de verdade.

Daí que chega minha vez, com a data de vencimento do segundo período aquisitivo batendo na porta, não tem mais jeito, a liberdade vai cantar, meu parceiro.

Impressionante como nos afeiçoamos ao trabalho e nos esquecemos do ócio. A gente vende a preço de banana a maior parte do nosso tempo, a gente se vende em busca de um tipo de liberdade guiada. Você se vende a fim de ser livre para pagar seus boletos e ter mágicos 30 dias de ócio após 365 dias prisão. No meu caso, foram 1460 dias. Muito trouxa, né?!

Eu nunca havia dado tanto valor a um período de férias como neste ano. Daí você pensa “Mas que graça tem férias nesse ano de merda do caralho, em que o mundo inteiro tá fodido e ninguém tem grana, nem disposição pra porra nenhuma, otário?”. Pois é, eu não esperava que depois desses anos, o tão sonhado descanso aconteceria em um momento tão merda. Mas, irmão, eu quero mais é que se foda, esse limão de 2020 vai virar muita caipirinha, individual e sem açúcar, mas com muito afeto.

No dia zero dessas férias vou ver minha coroa. Mano, faz sete meses que não vejo Dona Maria, e a saudade tá foda. Vou fazer exame e o caralho essa semana, estou me cuidando por esses sete meses só pra isso. Quero abraço, quero o cheiro de minha mãe, e já, já eu tô chegando, e ela vai estar esperando com aqueles olhos azuis insuportavelmente lindos e incrivelmente amorosos, além do melhor arroz com feijão que você, mero mortal que não conhece minha coroa, jamais terá a chance de degustar, se fodeu.

Depois de aquecer meu peito, eu penso no resto das férias. E com isso concluo que, ao contrário do que eu digo na primeira frase deste texto, na verdade eu não estou há três semanas pensando nas férias, estou há três semanas pensando em estar de frente para aqueles olhos azuis lindos. Só mais uma semana.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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