Fim. Todas as coisas acabam e recomeçam num círculo infinito. O problema para nós é não estar aqui para ver isso, a continuidade primordial. É que não perdemos a mania de achar que as coisas só existem depois e enquanto nós a conhecemos.
Criamos rituais e cerimônias como quem quer garantir que a vida continue, um disfarce para o desejo de perpetuarmos a nós mesmos, pelo máximo de tempo possível.
Rituais marcam o tempo: começo, fim, recomeço, numa ciranda encantada. Pois só existe enquanto a invocamos. Rituais nos lembram do caminho até aqui. Do que ficou para trás, do que queremos ou não repetir.
Ano novo, Natal, Páscoa, festas da colheita; dia das bruxas, das crianças, das mulheres, das mães, dos pais, do orgulho gay; dia da consciência negra; bodas de papel, de prata, de diamante, de ouro; aniversário do primeiro beijo, do primeiro salário; nascimento e morte de entes queridos; dia da preguiça, da mentira; dia dos namorados; casamento, batizado, funerais, almoços de domingo, peladas nos fins de semana; consagração aos santos; férias….
Temos memória curta dos bons e maus momentos e principalmente do significado das coisas. Criamos as festas para nos lembrar, para marcar a passagem do tempo, esse vento que sopra em brisa ou furacão, mormaço. Esse ente que não tocamos, mas que nos toca, forma rugas, engrossa cicatrizes. Indiferente, segue sua marcha no Universo. Esse mesmo Tempo que queremos reter, adiar a velhice ou adiantar o crescimento para chegar o dia em que achamos que seremos mais. Quando eu casar… quando eu terminar os estudos… quando eu finalmente me divorciar… quando os filhos crescerem… quando eu tiver grana sobrando… quando eu emagrecer… Imagino o senhor Tempo rindo de nós. Da nossa incapacidade de perceber que só o agora existe.
Os rituais também apontam coisas belas, a vontade de ter um futuro. Sonhar. Desafiar o tempo e nossas fragilidades. São tão belos os sonhos coletivos! Parecem ter mais força, como são belos os insetos, as árvores, as flores e os bichos numa floresta.
Ter o privilégio ou a dor de alcançar mais uma data comemorativa é ter escapado por mais um pouco, é ter conseguido, apesar de tudo. Um pouco mais. Mais um dia. Mais uma semana. Mais um ano.
Como encantados, ver a ceia de Natal, os fogos do Réveillon e acreditar que tudo pode ser diferente. Desejo grande de o que for bom permaneça, principalmente as relações, as pessoas queridas. Desejo de querer ser melhor. Recomeçar.
Felizes Festas!