Fica difícil compreender até que ponto iremos cavar nossas próprias covas em um cenário tão mórbido quanto o atual. Estamos perigosamente nos aproximando da marca de 300 mil mortos, mais ou menos um ano após o início de tudo isso.
São poucas as conclusões que tenho pra tirar, mas carrego comigo a certeza absoluta de uma enorme falha coletiva. Confesso que mais uma vez acreditei na nossa humanidade e falhei em minhas previsões. No começo de tudo isso, cheguei a crer na nossa capacidade de sermos melhores a partir dos péssimos momentos, mas errei.
Errei por acreditar que fôssemos capazes de nos sensibilizar com o próximo, falhei por tentar achar que nós pudéssemos sair desse buraco melhores do que éramos quando o normal ainda era velho.
Acreditei com força que a tempestade que se desenhava nos tornaria um grupo mais unido, mais sensível, mais solidário e mais consciente. Hoje, pouco mais de um ano após o início do caos, vejo a nossa sociedade egoísta seguir o rumo oposto ao do bom senso.
Não é difícil encontrar a cristandade brasileira, composta pelos seus “cidadãos de bem”, tão patriotas e humanos, fazendo buzinaço em frente a hospitais onde pessoas morrem pela nossa falta de competência enquanto humanidade.
Desgosto, revolta, desprezo e realidade. Um belíssimo choque de realidade nos mostrou a cara da morte durante um ano. Não nos recolhemos como deveríamos e ainda ousamos questionar a ciência sobre o que deve ser feito. Há um ano eu não pensava mais em usar máscara e projetei um futuro melhor do que a tormenta que se apresentava.
Hoje, já não sei de mais nada. Existir com sanidade é uma prova de resistência, e a única nova certeza que tenho é a de que não corremos o menor risco de dar certo enquanto sociedade.