Pensamentos crônicos

Nova certeza

Escrito por Thigu Soares

Novo “normal”, novas decepções, novas certezas.

Fica difícil compreender até que ponto iremos cavar nossas próprias covas em um cenário tão mórbido quanto o atual. Estamos perigosamente nos aproximando da marca de 300 mil mortos, mais ou menos um ano após o início de tudo isso. 

São poucas as conclusões que tenho pra tirar, mas carrego comigo a certeza absoluta de uma enorme falha coletiva. Confesso que mais uma vez acreditei na nossa humanidade e falhei em minhas previsões. No começo de tudo isso, cheguei a crer na nossa capacidade de sermos melhores a partir dos péssimos momentos, mas errei. 

Errei por acreditar que fôssemos capazes de nos sensibilizar com o próximo, falhei por tentar achar que nós pudéssemos sair desse buraco melhores do que éramos quando o normal ainda era velho.

Acreditei com força que a tempestade que se desenhava nos tornaria um grupo mais unido, mais sensível, mais solidário e mais consciente. Hoje, pouco mais de um ano após o início do caos, vejo a nossa sociedade egoísta seguir o rumo oposto ao do bom senso. 

Não é difícil encontrar a cristandade brasileira, composta pelos seus “cidadãos de bem”, tão patriotas e humanos, fazendo buzinaço em frente a hospitais onde pessoas morrem pela nossa falta de competência enquanto humanidade.

Desgosto, revolta, desprezo e realidade. Um belíssimo choque de realidade nos mostrou a cara da morte durante um ano. Não nos recolhemos como deveríamos e ainda ousamos questionar a ciência sobre o que deve ser feito. Há um ano eu não pensava mais em usar máscara e projetei um futuro melhor do que a tormenta que se apresentava. 

Hoje, já não sei de mais nada. Existir com sanidade é uma prova de resistência, e a única nova certeza que tenho é a de que não corremos o menor risco de dar certo enquanto sociedade.

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.

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