Há muitos valores perdidos por aí, desgastados como roupa velha e fora de moda. Coisas descabidas para dar lugar às aparências, estas são por demais espaçosas para dividir lugar com outras experiências como a busca pelo que é sincero, sem dissimulações.
Sem sinceridade não há confiança, não há liberdade para ser o que se é, para andar junto.
Como temos sido falsos e covardes, vestindo roupas que não são nossas, a fim de participar de um grupo, de uma casta, nem que seja por breves momentos para logo em seguida sermos expulsos como estrangeiros.
Como ideal afirmamos preferir o que é simples, mas, na prática, aspiramos intensamente apenas pelo que é passível de ostentação. Acreditamos que só é possível ser quando nos tornarmos um outro, mais belo, mais forte, mais rico, mais inteligente, mais poderoso. Por isso desprezamos o que é frágil, o que se revela, o que já é. Por isso mentimos, por não suportar a verdade. E nos afastamos.
A verdade nos dilacera e pode ser mutável. Ela arranha nossa garganta como espelhos embaçados. Não há uma verdade, não há um caminho, não há um campo de certezas no qual possamos deitar seguros para ver o pôr do sol ao lado de quem amamos.
Em meio a tantas incertezas só nos resta mentir e nos afastar de tudo aquilo que soe natural, ainda não rendido completamente ao mundo dos simulacros.
Então, seguimos como seres impermeáveis ao outro, incapazes de ter relações sinceras, nem com os outros, nem com a gente mesmo. Dessa forma, a principal roupa que nos encouraça é a indiferença e o fingimento que está tudo bem, que está tudo sob controle.
Talvez, quando voltarmos a ser pó, já não haja espaço para tantas mentiras e sofrimento por estarmos nus e sós. Talvez, possamos assim, finalmente descansar.