Sentir dores é inerente a estar vivo. Mais que isso: a dor é um mecanismo essencial para que continuemos vivos. As dores são a forma que o nosso corpo encontrou de nos alertar de que algo não está bem.
Apesar disso, passamos a vida tentando evitar a dor. Substâncias analgésicas já fazem parte dos costumes humanos muito antes da invenção da indústria farmacêutica. Povos originários já tinham seus chás e ervas curativas. Na vida moderna, é habitual termos comprimidos sempre à mão para qualquer mínimo incômodo.
Mas, e quando as dores não são físicas? E quanto àquelas dores invisíveis, que nos massacram e nos corroem por dentro, tão potentes que são capazes de nos paralisar por completo?
Para estas, o ser humano também já encontrou subterfúgios. Além dos fármacos propriamente ditos, utilizamos toda a sorte de estratégias para mascarar a dor. Há quem se anestesie usando drogas. Há quem substitua o vício toxicológico por outros, como o jogo, o sexo, a comida, as compras…
E há quem prefira amortecer suas dores consumindo conteúdo compulsivamente. Seja rolando o feed das mídias sociais indefinidamente em busca de mais uma dose de dopamina, seja maratonando freneticamente séries e filmes. Afinal, é sempre mais cômodo e conveniente se inconformar com tramas e problemas de personagens fictícios do que encarar a realidade das nossas próprias angústias.
E assim, enquanto a vida real tenta existir e acontecer, em todas as suas nuances, com alegrias e tristezas, com problemas e conquistas, insistimos em evitá-la a qualquer custo, redirecionando nossos esforços mentais, físicos e financeiros para qualquer coisa que possa nos proporcionar um milésimo de segundo de prazer. Ou de alívio, ao menos.