Pensamentos crônicos

Dores

Escrito por Mayara Godoy

Nossas dores não nos definem, mas, a forma como lidamos com elas, sim.

Sentir dores é inerente a estar vivo. Mais que isso: a dor é um mecanismo essencial para que continuemos vivos. As dores são a forma que o nosso corpo encontrou de nos alertar de que algo não está bem.

Apesar disso, passamos a vida tentando evitar a dor. Substâncias analgésicas já fazem parte dos costumes humanos muito antes da invenção da indústria farmacêutica. Povos originários já tinham seus chás e ervas curativas. Na vida moderna, é habitual termos comprimidos sempre à mão para qualquer mínimo incômodo.

Mas, e quando as dores não são físicas? E quanto àquelas dores invisíveis, que nos massacram e nos corroem por dentro, tão potentes que são capazes de nos paralisar por completo?

Para estas, o ser humano também já encontrou subterfúgios. Além dos fármacos propriamente ditos, utilizamos toda a sorte de estratégias para mascarar a dor. Há quem se anestesie usando drogas. Há quem substitua o vício toxicológico por outros, como o jogo, o sexo, a comida, as compras…

E há quem prefira amortecer suas dores consumindo conteúdo compulsivamente. Seja rolando o feed das mídias sociais indefinidamente em busca de mais uma dose de dopamina, seja maratonando freneticamente séries e filmes. Afinal, é sempre mais cômodo e conveniente se inconformar com tramas e problemas de personagens fictícios do que encarar a realidade das nossas próprias angústias.

E assim, enquanto a vida real tenta existir e acontecer, em todas as suas nuances, com alegrias e tristezas, com problemas e conquistas, insistimos em evitá-la a qualquer custo, redirecionando nossos esforços mentais, físicos e financeiros para qualquer coisa que possa nos proporcionar um milésimo de segundo de prazer. Ou de alívio, ao menos.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

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