De todas as coisas desimportantes do mundo, o futebol é, com absoluta certeza, a mais importante.
Foi assim, num domingo de Sol, que pus à prova a paixão de uma pequena pelas cores que carrego comigo desde o ventre. Mesmo ventre que o dela, ressalte-se. Fiz do ex-caçula também um torcedor, mas o fanatismo, o apego pela narcose que o futebol promove não fez a cabeça dele. Ele sempre foi um tanto avesso à loucura de qualquer tipo, felizmente.
Clássico, todos diziam. Jogo complicado pra se levar uma criança, como apregoam por aí. O charme do campeonato estadual já não é mais o mesmo e o placar do primeiro jogo nos garantia um resultado com certa folga. Do outro lado, sobrava um rival que só tinha história e camisa, os times pareciam de categorias distintas.
Poupei seus pequenos passos em meio ao mar de gente que circulava no entorno do Maracanã colocando sobre meus ombros. Assim se fez a primeira festa. Vendo de cima aquele mundo pintado em vermelho e preto, olhava pros lados, buscava nossa mãe, olhava para um mundo de gente e festejava.
Sessão de fotos com a pequena, obrigações audiovisuais cumpridas com precisão e bom humor, e lá estávamos nós. Ela tossia um tanto, é verdade, mas a reação não vinha como consequência do espetáculo das fumaças.
Ficou ansiosa com nossa demora na entrada e subiu a rampa de acesso feliz e gritando. Parecia experiente, pelo menos até cruzar o túnel que nos levava à arquibancada. Nem o sol daquela tarde de falso outono iluminava tanto quanto seu olhar.
O sorriso, os olhos perdidos em admiração e felicidade faziam a minha alegria, que dividia todo bobo a minha atenção entre ela e o jogo.
Comemoramos o primeiro gol. Copo do ídolo da pequena, pequenos ensinamentos de nossos cantos e o incentivo aos pequenos insultos sem reprimenda que o futebol permite foram parte da primeira etapa.
No segundo tempo, a festa se tornava mais linda. Colada comigo, ela falava em meu ouvido sobre o céu e as cores do estádio, sobre a torcida, sobre o adversário e sobre Gabigol, seu ídolo. Vibramos e enlouquecemos com o gol de seu favorito. Pela primeira vez fui contra o VAR, que dificultou a explicação de que o golaço, a comemoração e toda nossa explosão fora em vão.
Chorou inconformada ao ver seu predileto substituído e sorriu pulando e gritando “é campeão”! Descemos em meio à festa da rampa. Sobre meus ombros, a pequena continuava sua festa. Depois de toda essa pequena odisseia, a certeza do futebol marcado na história dela me traz um sorriso enorme de vitória!
A base vem forte!