Pensamentos crônicos

Lá vai ela pelos ares

Escrito por Raphaela Lourenço

Assistindo pela terceira vez o filme “Prenda-me Se For Capaz”, ao destilar meu fascínio por Leonardo DiCaprio por aí, peguei-me relembrando minha infância. Além da história sensacional desse longa-metragem, um elemento chama muito a atenção: as comissárias de bordo.

Quando era pequena, ouvia minha mãe dizer que era “um total luxo” ser aeromoça. “Filha, se um dia você quer ser importante, seja comissária de bordo. Não tem nada mais glamuroso!” No fim das contas, virei escritora e jornalista que ama demais o que faz, mas duvido que exista alguma mulher que em alguma vez que parou para reparar em uma aeromoça não disse “uau”. Não tem como não se apaixonar pelos uniformes impecáveis sem um vinco, as saias-lápis com terninho que garantem um charme inigualável, e buscando referências nos anos 60, as luvinhas eram o acessório mais charmoso que poderiam acrescentar a seu visual.

Essas mulheres ainda são consideradas um padrão de beleza, encantando os tripulantes com sua simpatia e delicadeza, sua postura ereta sob saltinhos finos e literalmente tocando as nuvens com seus delicados pés. E aquela maquiagem perfeita que as deixa como bonecas de porcelana e não sai durante todo o dia? Seriam elas seres humanos ou androides do Westworld?

Essa é realmente uma profissão que sempre admirei, embora nunca havia parado para pensar nas responsabilidades e em quão grande é a importância dessas mulheres em um voo. Definitivamente, passa bem longe de apenas manequins estilosos trajando monumentais chapéus com véus encantadores como os da Emirates.  Como eu descobri ou parei para pensar nisso? Quando minha parceira literária, amiga e bonequinha mais linda do mundo tornou-se uma comissária de bordo!

Vou manter meu fio de prumo para representar uma linha de referência.

Quando notei que ficaria infinidades sem ver minha melhor amiga, observei a partir daí que não apenas eu a veria com menos frequência. Também seus pais, seu namorado, os outros amigos… Abdicar de uma vida para manter e ajudar outras vidas em um avião é mais importante do que parece.

Engana-se quem pensa que elas apenas servem lanchinhos, trazem travesseiros para nos sentirmos confortáveis e uma manta para nos manter quentinhos, ou ainda que só sirvam para dizer que “em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão do teto”. Além de um longo tempo de estudo e se aperfeiçoamento, um curso de comissário de bordo é pura engenharia! Até o peso de nossas bagagens é vistoriado por elas para que nos mantenhamos a salvo, evitando o contrapeso aéreo.

Isso porque ainda não falei nada sobre os treinamentos de sobrevivência na selva (que somente remete a mim mesma caindo uma floresta e vendo minha vida findar-se em uma luta com um urso, no estilo “O Regresso”), ou pior, sobrevivência no mar, onde você acabar por virar uma simples boia no oceano, à deriva, com passageiros em pânico que você precisa ajudar. Ah, e por último e não menos importante, as manobras de ressuscitação para pessoas engasgadas, com crises de pânico, ataques cardíacos, tudo isso em meio a turbulências que por dentro também as apavoram.

Com isso, quero dizer que estou bem feliz em terra firme, com meus textos e livros na mão, mas antes uma profissão que eu admirava como status social, hoje merece meu respeito e admiração pessoal.

Sobre o autor

Raphaela Lourenço

Nascida em 1º de setembro de 1991 quando o rock era sensacional!

Cinéfila inveterada, rançosa por natureza, Felícia de gatinhos fofos, dramática como Emily Brontë, viciada em histórias de serial killers, jovial como Machado de Assis.

Militante de roupas plus size estampadas, sutil como um rinoceronte, escritora de literatura erótica, mas com muitíssima classe!