Pensamentos crônicos

A pasmaceira mata

Escrito por Brunno Lopez

Se você é daquelas pessoas que guardam todas as suas energias unicamente para desviar de qualquer sinal de decepção, é bem possível que seus olhos sintam-se atraídos de maneira perigosa à toda ironia contida nas palavras que se seguem.

São tempos onde a insegurança desfruta de uma popularidade hollywoodiana e todos os artifícios que possam oferecer um mínimo de proteção emocional encontram-se esgotados nas lojas de comportamento. É inadmissível permitir o contato com as frustrações, sendo expressivamente proibido chorar até de alegria.

Mas como garantir uma existência livre de eventuais infortúnios do destino, escondidos entre tantas possibilidades de relações?

Simples. Não tenha a audácia de se interessar por mais do que aquele indivíduo escolhe mostrar num primeiro momento. Mantenha-o como um desconhecido, naquele campo onde é apenas possível fantasiar milhões de adjetivos admiráveis. Contente-se com um sentimento morno de ter um brinquedo na caixa mas nunca abrir por medo de quebrar.

Troque apenas olhares ao invés de segredos. Molhe os pés, mas não mergulhe. Aproxime-se, mas não abrace. Transe, mas não goze.

Desejar imunidade ao que possa lhe causar sofrimento é também renunciar aos melhores sorrisos do mundo. Tentar escolher o que receber é boicotar um pacote inteiro de sensações.

Acredite, por mais que você use um colete a prova de balas, alguém sempre vai poder atirar na sua cabeça.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.