Sem meias palavras

O Circo da Política

Escrito por Thigu Soares

Realmente adoraria ver nosso povo discutindo política. Acharia um privilégio ter orgulho de meus votos. Acontece que nem nossa indigência de opções é suficiente para justificar o circo que se formou em torno de nossa política nos últimos anos.

Sou crescido o suficiente para compreender que eventuais ataques façam parte da vida política, mas o maior problema é transformar isso na base de um discurso sem fim, independente do lado. São narrativas que se baseiam no medo e no ataque, nada além. Programas de governo, propostas, projeções e até promessas… Nem as promessas temos mais! Perdemos a capacidade de escutar o outro e de propor melhorias.

Pensei que a pobreza das nossas discussões fosse somente um reflexo das campanhas ridículas que vivenciamos. Não são. Apesar de se alimentarem, o fluxo acontece no sentido contrário, as campanhas foram desenhadas analisando o eleitorado. Elas refletem e potencializam apenas o que somos como um todo. Os analistas acertaram, nossa população se divide em duas torcidas.

O “eleitorcedor” é o novo tipo de eleitor que toma conta do país. A lógica saltou pela janela. Esqueçam os argumentos e nem pensem em se apegar aos fatos. O “eleitorcedor” não opina, não discute, não debate. Ele grita, ele rosna, ele postula.  Não existe o contraditório, e caso você desconstrua um de seus argumentos através de fatos, dados ou qualquer coisa que valha… pior para os fatos!

Essa é a nossa atual realidade.  A política do nós contra eles e a polarização não permitem acordos e concordâncias em prol de algo óbvio ou melhor para o todo. Mais fácil encontrar um vascaíno elogiando o Flamengo, ou um corintiano falando bem do Palmeiras, do que encontrar um pingo de coerência nos discursos políticos atuais e nas reverberações de suas torcidas.

Pelo menos no futebol vejo gente criticando o próprio time. “Acabou o amor”, “o choro é livre”, “o primeiro milho é dos pintos”, “nunca serão” e tantas outras bizarrices têm me deixado cada dia mais descrente em um futuro melhor. Provar que o outro lado também é ou foi corrupto não justifica um voto ou comportamento.

A profundidade da discussão política não faz frente à de um pires. No futebol, por diversas vezes, sabemos reconhecer as qualidades de um adversário. No Brasil de hoje, isso não parece ser possível. Não adianta, a maioria desses “intelectuais” politizados acreditam que futebol é só circo, e enxergam nobreza na porcaria que espalham.

Vivemos uma era potencializada pelas redes sociais. Como quase tudo que ganha força na web, quase sempre os destaques ocorrem pela radicalização, pela polarização ou pior, pela mentira. Como se já não bastasse a falta de respeito em relação ao convívio com a opinião de uma maioria.

Compreender a democracia como algo não tão bonito é antipático, mas te ensina a respeitar a opinião de determinados grupos. Nesse aspecto, o pessoal que celebra a diversidade também corre por fora. São simpáticos até que surja uma discordância. A partir daí, você não presta e merece ser agredido. Mas quando vencem, logo após o gozo futebolístico, versam sobre a beleza da democracia e seus princípios.

Não é preciso coerência para ser eleitor, nunca foi preciso. Sempre foi interessante ser coerente, mas desistimos de vez. Em alguma etapa do processo, saiu de moda. O pior? Eles perceberam! Agora, basta alimentar o povo com o circo que vem sendo feito, e estamos sendo o melhor combustível para o fogo dessa lona. Somos o combustível e o palhaço, mas não interessa enxergar, basta a narcose do momento, basta o furor da torcida.

Em nosso picadeiro, estes vão às urnas felizes e seguros de seu papel sem que enxerguem a própria cegueira! Não é pra não votar! Seria pedir demais. Basta tirar esse sorriso da cara. Vocês deveriam ter torcido mais na infância, o futebol tem muito a ensinar para quem acha que sorrir nesse momento é possível.

Convivam com a diferença e aprendam a respeitar e tirar de bom do que se vê no “outro time”.

Me dá inveja de nossa democracia, que engatinha! Nós seguimos rastejando.

 

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.