Sem meias palavras

Pra não dizer que não falei de flores

Escrito por Thigu Soares

Respeitar os direitos das mulheres não é um favor, e não faz de você um ser especial.

Mais do que fora de moda, as flores no Dia Internacional da Mulher refletem parte daquilo que ficou pra trás quando nós, homens, resolvemos combater nosso próprio machismo como quem luta para evitar a vitória do diabo de cada dia que nos atenta, buscando uma morada confortável e silenciosa em nossas atitudes e mentes.

Pertenço a uma geração para quem as flores ainda eram sinônimo de sensibilidade num dia carregado de significado como é o dia 8 de março. Naturalmente, demorei a perceber que tal data, mais do que comemorativa, tratava-se de um marco político, não de uma concessão barata em meio a 364 outros dias de desrespeito. 

Acreditar na equidade e na igualdade são processos longos de desconstrução e reconstrução de uma série de marcas perpetuadas pelo comportamento, pela sociedade e pela experiência cotidiana, e isso não diz respeito apenas ao gênero. 

Com duas afilhadas adolescentes, uma irmã de oito anos e uma equipe montada com mais de dez mulheres, exercito a cada dia a luta contra o machista que paira sobre mim no dia a dia. E isso não tem absolutamente nada a ver com pedir desculpas por ser homem, só tem a ver com ser um homem mais justo. 

Jamais sentirei na pele os problemas ou desvantagens de ser mulher no mundo, mas posso e devo me preocupar com o mundo que receberá minhas afilhadas, minha irmã e, quem sabe um dia, minha filha. Querer que esse mundo entenda que não é não, que o corpo delas obedecerá às regras que as mesmas quiserem e que ganhar o mesmo é o mínimo para quem faz o mesmo trabalho não é pedir muito, é só o básico. 

Fica difícil oferecer flores um dia no ano se não conseguimos prover um cenário diário sem tantos espinhos e desigualdades em todos os outros dias. 

Compreender os desafios das mulheres e reconhecer a necessidade de mudança não me torna um homem envergonhado, só passo a ser mais razoável. Policiar o próprio comportamento e tentar não perpetuar os mesmos erros do passado consiste no mínimo e não é digno de qualquer prêmio. Entender, se mover, combater e respeitar não fazem de mim ou de você um homão da porra, mas nos deixam próximos do mínimo que deveríamos ser para que não sejamos cuzões e não perpetuemos algo que já deveria ter sido superado no século passado.

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.

2 comentários

  • Mto orgulhosa de vc!
    É importante ressaltar q a educação q recebeu sempre evitou a aceitação ou proliferação de comportamentos machistas. Mas, socialmente, de certa forma, eles vão sendo absorvidos no convívio diário com situações diversas, fazendo-se necessário, como vc bem disse, tornar-se vigilante para combatê-los.

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