Pensamentos crônicos Sem meias palavras

2020

Escrito por Thigu Soares

Eis que tentando sobreviver a 2020, acabamos com ele. Vencemos o ano, mas todos perdemos ao menos um pouco.

Confesso já ter começado essas últimas linhas deste ano maluco algumas vezes, mas é difícil expressar o que sinto e o que penso em meio a um ano que testou os limites de cada um de nós. 

Frequentemente, me vejo tentando encadear tudo aquilo que aconteceu em 2020 sem permitir que ele pareça uma sucessão infinita de dias sempre iguais, mas sempre mais desafiadores que a véspera. Tiros, porradas, bombas, vírus… nunca foi tão difícil, arriscado ou desafiador poder continuar tendo o simples direito de respirar.

Devemos admitir, não faltaram vilões. Em meio a tantos heróis, fossem eles da saúde ou de serviços essenciais, percebemos que o vilão tava em alta em 2020. Alguns foram vencidos, outros contornados, mas qual o preço desse feliz ano novo que se apresenta? Quantas vidas, quantos dias, quanta sanidade nos custou a chegada até aqui? Será que podemos acreditar no verso que diz que “podemos sorrir, nada mais nos impede”? Talvez, de todas as dores de 2020, uma das piores seja vê-lo trazendo 2021 como um enorme ponto de interrogação. 

Começamos o ano cansados daquilo que vivemos, exaustos com a inoperância do governo de Banânia e olhando o resto do mundo com certa inveja, típica de quem não tem um plano de vacinação ou um governante para chamar de seu. Enquanto o mundo conta os dias para se ver livre da ameaça do vírus que mudou nossa história, empilhamos mortos, contamos corpos e sorrimos, imaginando um novo ano diferente. 

Reaprendemos, na segunda década do século XXI, em pleno terceiro milênio, que lavar as mãos faz a diferença. Beijos poderiam ser mortais e os abraços, assim como os apertos de mão, deram lugar à distância e aos cotovelos. De máscara, vimos como os olhos sorriem e podem falar tanto, mas ainda falhamos nos exercícios mais básicos de empatia e amor ao próximo que podemos ter. 

Fingimos evoluir com o tempo, mas repetimos erros e negações de marcos históricos como a Gripe Espanhola e a Revolta da Vacina. A rede que permitiu que o trabalho remoto se tornasse uma realidade e encurtasse distância juntou, com enorme facilidade, um punhado de estúpidos que negam a Ciência e acusam o próximo de torcer pelo vírus. A vida, que já não era simples, se modificou e acabou pra muita gente. Literalmente. 

Próximo às últimas horas desse ano macabro, eu lembro que cheguei a crer num mundo melhor depois disso tudo. Errei. Poucos serão aqueles que serão capazes de levar para o futuro aprendizados genuínos e úteis de um ano como esse. Eis que tentando sobreviver a 2020, acabamos com ele. Vencemos o ano, mas todos perdemos ao menos um pouco. Eu queria acreditar no que vem pela frente, mas aprendi com esse ano que eu não sei de nada.

Sobre o autor

Thigu Soares

Um ex-jovem sempre velho que sonhou ser escritor. Blogueiro bissexto, cronista por vocação, "publicizeiro" totalmente por acaso. Intenso, exagerado, mal humorado, ácido e corrosivo. Leal, amigo e um pouco mentiroso. Flamenguista, carioca e pai de dois Pugs lindos. Luto contra a balança e brigo com a tarja preta. Já quis salvar ou o mundo, mas dá muito trabalho, mas dá preguiça… Mesmo sem fazer isso direito, tento seguir rabiscando como dá. É bom pra combater ou manter a loucura.

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