Exercitar o otimismo é uma tarefa de resiliência diária. Entre a fantasia líquida da expectativa e a dureza rochosa da realidade, nossa vida se faz de marisco, sendo castigada a cada momento pelo choque entre os dois.
Seria melhor (e bem mais motivacional) falar sobre o poder da erosão da água em relação ao mito intransponível do objeto rochoso. Soaria sexy considerar o sonho como um agente que vence a frialdade do mundo real. Confesso que algo assim poderia conferir a essas linhas um tom esperançoso ou inspirador, como um espetáculo de coaching, mas não será assim hoje.
Bem como naqueles programas de música que vemos pela TV, hoje eu chego aqui pra triturar expectativas, reduzir ilusões a pó e permitir que a realidade soque nossas caras como a luz faz conosco nas manhãs ou tardes de ressaca. Mas farei de mansinho. Tal qual a um julgador de um Idol ou The Voice da vida, deixarei claro tudo que foi feito de certo, mas no final, como sabem, isso não bastou.
Passei pra te lembrar que entre Hollywood e o cinema europeu temos uma distância maior e mais profunda que o Atlântico. No Velho Mundo, ao menos na Sétima Arte, compreenderam que a vida é o que costuma acontecer entre um boleto e outro, e que na média, tudo tende a dar sucessivamente errado, com algumas margens de erro para a felicidade.
Tirando o nosso sistema bancário, incrivelmente bem mais desenvolvido, não dá pra discordar dos produtores em 24 quadros por segundo e pedir arrego para os happy endings americanos. A vida não é Hollywoodiana e nem foi produzida pela Disney ou pela Pixar. É com a doçura de Ivete que eu poderia dizer que a música que você escolheu é linda, o arranjo foi ótimo, você é afinado, mas hoje é não.
Aceite, a vida vai seguir. A sua derrota de hoje não será a última. Fica tranquilo, nada vai dar certo.
Com a certeza de que o amanhã será pior, me despeço e desejo força a todos nós.