No fundo, sei que estão por aí. Nos corredores de um sebo, atrás das prateleiras de autoajuda de uma livraria, com um Kindle embaixo do braço… Sei que não estou sozinha. Mas tenho sentido cada vez mais dificuldade de encontrá-los em minha bolha.
Esses dias perguntei para um grupo de amigos quem estava lendo alguma coisa. Literatura, livro na mão, universos inventados. Ninguém. A maioria não se lembrava do último livro que havia lido. Não aplico esse exemplo como crítica, longe de mim. Mas aquela conversa me deixou imaginando que se tudo desse certo e eu publicasse um livro, talvez ele não tivesse quem o lesse.
Até o final do ano passado, eu também estive em uma letargia literária que não me permitia ler e, consequentemente, escrever. Voltei à leitura em um dia de tédio, desses que parece que todos os filmes já foram vistos e que as séries de TV não são, de fato, a oitava arte. Em um dia que bateu aquela saudade de ser dominada por uma narrativa que não fosse a minha. Que me arrebatasse e me transportasse para um mundo diferente do meu. Neste dia, comecei a reler Agatha Christie. E com a dama do suspense veio a necessidade de me reencontrar com a literatura.
Da vasta bibliografia de Agatha – de quem sou fã suficiente para chamar pelo primeiro nome – mergulhei em outras mulheres, outras mestras, outras autoras. Desde então, me desafiei a ler apenas escritoras. E o desafio não vem pela falta de qualidade, mas pela dificuldade em encontrar títulos na estante dominada pelos grandes nomes masculinos da arte. A literatura, assim como o cinema (outro amor pelo qual tenho fascínio e me aventuro), é masculina, e é nas entrelinhas que percebemos isso. No número de exemplares em uma biblioteca ou na lista de ganhadores do Nobel. As grandes escritoras sempre precisaram ser muito grandes para serem.
O saldo de estar lendo apenas mulheres, nesse 2019 tenebroso, é incrível. Uma das poucas coisas que consolam e inspiram. Com o choque da morte precoce da maestral Fernanda Young, me senti na obrigação de voltar a fazer algo que sempre fiz naturalmente, com muito prazer e como salvação: escrever. Se ainda hoje me recuso a me considerar uma escritora, não foi por falta de esforço e mérito de minhas precursoras. É que ser mulher já é difícil. Ser uma mulher escritora é ainda mais. Escrevo.
Aceitei o convite para aderir a este espaço, que vejo como resistência literária, em um momento que os blogs deram lugar aos canais do Youtube e que as palavras “influenciar”, “marketing” e “conteúdo” nunca estiveram tão em alta. Acho que precisamos resistir. E como escritores, ler. E como leitores, incentivar. E como incentivadores, fortalecer. Em um ciclo de palavras e ações que vai nos permitir ir além.
Se for pra fazer meus bons amigos lerem – porque ler um texto de um amigo que escreve é um grande ato de amor e amizade – já faz sentido. Com sorte, cruzarei caminho com leitores atuais e descobrirei que preciso ser mais otimista.
Começo esse processo como um sopro, que estava há tempos precisando alcançar meus dedos, e com uma dica de ouro para quem não sabe mais o que fazer para tornar a existência mais suportável: leia. Leia mulheres.
Compartilho das tuas impressões. Para resistir criei um clube do livro em minha casa. Só consegui arrebanhar umas seis pessoas, mesmo assim, tá valendo. Também gosto de escrever, penso em publicar. Sobre ler só mulheres, pensei nisso inicialmente para o clube, mas não fui em frente. Dos seis encontros que tivemos até agora, a metade foi de autoras. Um desafio pessoal que pretendo encarar é ler autores e autoras contemporâneos. O impasse é a falta de grana. Os clássicos tem sido minha preferência por estarem disponíveis online. A vontade de escrever só tem aumentado. Penso em fazer um blog, mas com aquela impressão desanimadora de que não terá leitores. Apesar disso tudo, sigo em frente com um livro na mão.
Que incrível o clube do livro! Acho muito importante este tipo de ação para unir gostos e opiniões de pessoas que estão como a gente! Gostaria muito de criar/participar um dia também. Minha meta para 2020 é ler autores contemporâneos, também…este ano me cerquei de clássicos de autoras que eu ainda não tinha lido e foi muito enriquecedor (penso em fazer em breve um texto com indicações aqui). Já sobre a escrita, não desanima do blog, não…olha você aqui me lendo e nós duas trocando pensamentos! Os leitores estão por aí…e nós do Crônicas estamos em busca deles! Dou todo o apoio!
Ps: temos uma seção dedicada aos textos de leitores. Adoraria receber um texto seu para publicarmos aqui!
Muito obrigada por vir comentar! :*
Maravilhoso te ler e reler….quero agora em um livro.Logo.!
Muito obrigada! Quem sabe agora animo para, finalmente, publicar um livro? Tô na pilha, rsrs. Beijo! :*
gostei Leticia. Muito bom..
Muito obrigada, Regina! ;*
Orgulho de você ! Parabéns ! Vou ler seus textos com AMOR!
Muito obrigada! Amor é tudo o que nos move! Beijo! ;*
Adorei! Fantástico texto! Vamos ler mulherada!!
Muito obrigada, Aline! Bora ler mais mulheres juntas! Beijo! :*
Adorei! Aproveitando deixo a recomendação de 2 livros da mesma autora Autora: Colleen McCullough
Tim e Pássaros Feridos, dois livros que me marcaram muito!!
Muito obrigada, Gabriela! Pela leitura e por essa indicação feminina incrível! Vou conhecer a autora! Beijo :*
Vivo um momento bastante parecido, de me reconectar com alguns canais e temáticas de leitura.
Passei os últimos tempos só lendo chatice de adulto, sem diminuir a profundidade do que é dito aqui, acho que esse espaço vai me ajudar a ter leituras mais leves.
Dona Autora, parabéns pelo texto e pela estréia =D
Muito obrigada, Leandro, não apenas pelo comentário, mas por já me deixar mais otimista! E eu achando que não iria encontrar um leitor tão cedo, rs. Boa sorte pra gente nesse momento de reconexão! Espero que este espaço tão amplo e generoso te ajude mesmo no processo! Obrigada pela visita e nos vemos por aqui!