Canto dos contos

Invadiram a minha conta

Escrito por Bruno Leo Ribeiro

Algumas histórias e redes sociais devem ser deixadas esquecidas no passado.

Cézar Madeira era um cara solteiro, sozinho e bem de vida. 

Trabalhava num escritório de advocacia no centro do Rio de Janeiro.

Sua rotina era simples. Acordava, colocava o terno, pedia um Uber e ia trabalhar. 

Todos os dias.

Sua vida era normal e ele não tinha muito do que reclamar.

Numa dessas noites solitárias em casa, depois de jogar videogame, resolveu reinstalar o Twitter.

Ele tinha prometido que não iria mais entrar em confusão e tinha medo de se expor demais por causa da carreira.

Na real, ele havia tido uma treta homérica no Twitter. Estava mandando mensagens privadas para uma de suas seguidoras e o namorado dela,um dia, respondeu a DM. Cézar ficou em pânico e sumiu do site.

Sua conta era famosinha antes de ele sair. Mais de 8 mil seguidores.

Conhecia todo mundo da galerinha das antigas.

Ele não sentia muita falta, já que tinha todos aqueles amigos no Facebook, no Instagram e no WhatsApp.

Seus amigos falavam pra ele, “Volta, Cezão! Esquece aquele camarada.”

Então ele voltou. 

Sua conta estava lá, intacta. Seu último Tweet era de 2017. 

Ele olhou a timeline por um tempo e resolveu twittar uma vez pra avisar que tinha voltado.

Tuitou e dormiu.

Na manhã seguinte, acordou, virou pro lado e pegou seu telefone.

Viu nas notificações do Twitter que estava escrito “20+”

“Wow! Mais de 20 notificações aqui”.

Ele já acordou feliz da vida e deixou pra ler as notificações mais tarde. 

Tomou seu banho, vestiu seu terno e foi trabalhar. 

Já no Uber, resolveu ler as notificações. 

A primeira de cima era de uma pessoa que ele nunca viu na vida dizendo, “Olha só o lacrador”.

A segunda era um retweet de uma conta chamada “Ódio do amor”.

A terceira era uma pessoa falando “Vai tomar no cu!”

Na quarta notificação o nosso querido @madeiracezaradv já estava desesperado.

“Mas que porra é essa, caralho?!”

Foi olhando e olhando, e tinha mais de 200 notificações.

Havia prints do seu Tweet fora de contexto.

Tinha print do seu Tweet em um print no Facebook e um amigo dizendo “@madeiracezaradv tá famoso, hein!”

Dos termos mais recorrentes nas suas mentions, havia “gado”, “retardo”, “petralha”, “isentão”, “sem tempo irmão”, “Are you sure?!”

O nosso Cezão não tava entendendo mais nada.

Ele desceu do Uber, subiu no elevador do prédio da firma e foi desinstalando o Twitter.

Quando entrou no escritório o seu chefe veio falar com ele, “Doutor Madeira! Tá famoso no Twitter, hein?!”

A única coisa que o Cézar conseguiu responder foi: “Twitter? Eu saí de lá há 2 anos. Alguém deve ter roubado minha conta. Acho que deve ter sido uma dessas ONGs querendo me expor”.

Sobre o autor

Bruno Leo Ribeiro

Diretor de arte por profissão, músico, produtor musical e compositor por teimosia. É host do podcast sobre música Silêncio no Estúdio e já escreveu um romance chamado “Todas as Cores: ascensão e queda de um publicitário”, publicado em 2017. Entre um e outro projeto, cria um novo projeto para ficar ocupado antes de criar um novo projeto. Curioso e dedicado, agora se aventura escrevendo seus deboches, personagens caricatos e suas observações do cotidiano. Mora em Helsinki na Finlândia desde 2011 e diz que seu melhor trabalho, foi a co-produção de dois adoráveis seres humanos.

Comente! É grátis!