A chuva da tarde facilitou o trabalho. Bastou segurar firme o caule, dar uma balançadinha e, “fup!”, a planta veio inteira, com raiz e tudo. É inverno, a sombra que o Barraco Novo faz sobre o gramado nesta época do ano é um convite para certas invasoras. O mês de férias longe de casa ajudou na proliferação.
Daninhas, ervas daninhas. Não têm este nome de graça. Mato, inço, tiririca. Indesejadas. E como se espalham fácil. Gerações delas contra cinco dedos e uma tarde chuvosa. “Fup!”, outra.
Lutando contra a praga, pensei em nossa predileção pela uniformidade do gramado em detrimento à diversidade das daninhas. Preferimos a esmeralda ao carrapicho, a coreana à azedinha. Até o vistoso dente-de-leão é arrancado e assoprado na primeira oportunidade.
Senti-me como um general da SS ditando o que é belo. Quem foge do padrão esmeralda é arrancado. Compridas ou rasteiras, espalhadas, trepadeiras. Com folhas, sementes, espinhos, unhas, dentes. Terra úmida da chuva, mãos firmes e “fup!”, mais uma.
Parei por um instante e olhei o estrago. A grama retomava a guarda da paisagem e a pilha de corpos verdes crescia. Daninha. Por que as chamamos assim? Olhei para as mãos. Toda a sorte de ervas tinha sido arrancada e morta naquela tarde chuvosa. Larguei as plantas e fui pra casa.
No outro dia, elas voltariam a tomar conta do gramado.