Que beleza! Sem meias palavras

Seja um homem feminino

Escrito por Rose Carreiro

Deixe de lado os conceitos antiquados de “coisa de macho” e se cuide. Se abra e divida seus sentimentos. Seja um homem feminino.

Em vez de discutir a masculinidade tóxica, venho propor a você, homem moderno, um exercício comportamental: incorpore a feminilidade. Por mais que tal termo seja sempre associado à fragilidade e à sensibilidade, nós, mulheres, já provamos diariamente o quanto ele também é sinônimo de força, coragem, proteção e preocupação conosco e com os outros. E, diante do triste diagnóstico de uma sociedade majoritariamente machista, assumir que é frágil, que é sensível, mas também usar de força e coragem – e de empatia – é um remédio escasso nas prateleiras de uma masculinidade doente.

Não se trata de baixar a guarda de uma virilidade imposta desde que o homem tinha como função apenas prover para os seus. Trata-se de cuidar de corpos e mentes que perecem diante das cobranças do mundo, e que muitas vezes se prendem a conceitos ultrapassados para não assumirem que precisam de ajuda, que não são autossuficientes, ou, apenas, que são humanos normais, com carências e necessidades. 

“Coisa de macho”, “macho alfa”, “homem com H” são apenas falácias que alimentam uma ideia inútil de superioridade e obriga os homens a se manterem brutos, empedernidos e intocados, e acabam por prejudicar a todos. Não exagero ao dizer que muitos dos ditos machos morrem por caretice e falta de prevenção. Por que um homem deixaria de ser “homem” – ainda que essas aspas signifiquem trazer aqui aquele estereótipo que a cafonice machista gosta de reforçar – ao cuidar da sua saúde, ao tratar bem seu corpo, ao falar dos seus sentimentos, ao assumir seus medos? Aposto uma caixa de chocolate Caribe como nenhum falo será amputado de qualquer corpo que se submeta a uma consulta médica ou sessão terapêutica. 

As mulheres estão aí: discutindo suas preocupações, compartilhando suas tristezas e apoiando umas às outras. Converse com as mulheres de seu convívio e a maioria afirmará que está com os check-ups médicos anuais em dia (com exames muito mais invasivos e com instrumentos muito maiores e mais torturantes que um dedo, garanto).  Nós trabalhamos, cuidamos de casa, estudos, família e trabalho, e ainda temos tempo para um creme hidratante nos calcanhares. E também sempre abrimos espaço pra uma DR, pra saber como foi o seu dia, pra tentar entender o que se passa por trás de seus resmungos e mal-estares. 

Estamos vivendo mais – e olha que estamos atrasadas, correndo atrás do prejuízo social – e nos cuidando mais. E, ainda assim, estamos aqui, prontas para conversar com nossos parceiros e amigos. Estamos de mãos estendidas e coração aberto, dispostas a ajudar. Então, largue as convicções bestas e esse conceito antiquado de masculinidade de lado. Espelhe-se um pouco nesse sexo nada frágil.

Como mulher que ama e admira muitos homens, pelo seu bem e pelo nosso bem, eu lhe rogo: deixe de frescura e seja um homem feminino. 

Créditos da imagem: A Pele Poesia por Tabaquara Cruz Filho 
Modelo: Ruan Andrade

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

6 comentários

  • Lembrei do Ney Mato Grosso, quando dizia que ¨ser um homem feminino não fere o meu lado masculino¨. Naquela época muita gente não entendeu e apedrejou o cara. Ney sempre esteve à frente do seu tempo.

  • Sabem o que eu acho disso? Que esse comportamento que você defende aqui já existe há muito tempo para muitos homens. Só que com outros nomes o definindo.

    Eu, pelo menos, sempre fui assim. E olha que já estou perto dos 50, e sou um cara conservador. Mas sempre me cuidei. E sempre entendi que não sou de ferro. Não concordo com o termo “feminino” para definir um comportamento mais cuidadoso, e uma postura mais humana. Sou homem sob todos os aspectos, masculino em todos. Sensibilidade, sensatez e auto-crítica são características do macho também. Desde que ele seja coerente.

    O cara pode abrir lata de champignon, jogar bola na chuva, matar barata voadora, empurrar o carro para pegar no tranco. E também pode cuidar do cabelo, depilar a barba com laser, e tratar com psicólogo. Um cara não deixa de ser macho só porque faz essas coisas.

    • Oi, Marcello. Obrigada pelo seu comentário.
      Concordo que o comportamento defendido no meu texto já exista, convivo com homens maravilhosos que se encaixam nesse perfil, inclusive, alguns escrevem neste site.
      Usei o termo “homem feminino” para fazer uma graça com a música do Pepeu, mas também porque conhecemos muitos homens (muitos mesmo!) que acham que se cuidar, se proteger, se mostrar sensível e pedir ajuda são “coisas de mulherzinha”. Mas que bom que não é o seu caso 🙂
      Um abraço.

  • Conheço alguns homens (mais velhos) que nunca fizeram exame de câncer de Próstata, por puro preconceito.
    As mulheres se cuidam bem mais sem dúvida!

    • Sem contar os homens que acham que terapia e higiene pessoal são coisas de mulher apenas…
      Obrigada por deixar seu comentário, Gabi 🙂

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