Gilberto cresceu no interior do estado do Rio de Janeiro, mais precisamente na cidade de Volta Redonda.
Desde criança, nunca falou.
Vivia uma vida muda.
Seus pais tentaram todos os tipos de tratamento pra saber se ele era realmente mudo ou só não queria falar.
Ele tinha a garganta, as cordas vocais, a língua, a boca e os pulmões perfeitos. Não havia explicação médica para ele não falar.
Se comunicava por sinais, mímicas e desenhos, mas escutava tudo perfeitamente.
Estudou nos melhores colégios da região e era amado pelos professores por ser comportado.
Gilberto foi uma criança feliz.
Brincava normalmente, tinha amigos, jogava bola, mas na hora do “gol”, só levantava os braços.
Fez o vestibular para Engenharia da Computação no Rio de Janeiro e passou em primeiro lugar.
Ele sabia que não precisaria falar trabalhando com programação.
Foi um aluno nota 10, se formando com louvor.
Trabalhava em uma empresa de TI no centro da cidade.
Conheceu sua esposa e teve dois filhos, que nunca ouviram sua voz.
Um belo dia, levou seus filhos para a Bienal do Livro.
Passeando com sua família, se encantou com a possibilidade de ler todos aqueles livros e quadrinhos fantásticos.
Em um dos stands da feira, viu um fiscal da prefeitura do Rio analisando os conteúdos dos livros pra ver se tinha pornografia.
Gilberto o ignorou.
Foi na estante e pegou a última revista “Vingadores, a Cruzada das Crianças”.
O fiscal olhou pra ele disse, “Senhor, vou precisar olhar o conteúdo dessa revista”.
Gilberto olhou pro fiscal e disse pela primeira vez na vida: “Censura aqui não, amigo!”.