A bolha de sabão gigante voou, penosa, perto de mim. Vi o arco-íris em sua superfície, até que uma saraivada de vento a dividiu em três menores. Mais leves, elas ganharam velocidade, saltaram o parapeito e fugiram das unhas pontiagudas da criança gorda que se agitava ao meu lado. O homem criador das bolhas coloridas caminhava sem medo por entre carros, ônibus, motos e fumaça.
As esferas caíram, lentas. Poucas chegaram a tocar o rio. Quem o fez foram quatro meninos de cueca. Não contavam com a desenvoltura de bolhas, mas tinham pernas, braços e a vontade de nadar naquela tarde quente. E, claro os olhares cuidadosos de dois adultos que os vigiavam enquanto manejavam suas varas de pescar.
A cena seria bucólica, não fosse o barulho das buzinas e as pessoas andando ligeiras atrás de mim, impondo ritmo a meus passos e cerceando meu segundo de apreciação, no alto da Ponte da Amizade.
Tudo depende dos olhos de quem vê.
Que belos olhos vc têm!
Que genial, Murilo… Que poesia, que sensibilidade!
Se fosse aqui, o momento se passaria às margens do Igapó, e a apreciação seria interrompida pelos grupos de corrida que se organizam para acabar com a poesia da paisagem local. Belíssima crônica.
Acho que qualquer lugar, de Ponte da Amizade ao Igapó, a gente pode parar, se descolar daquele ritmo frenético, e apreciar as pequnas surpresas do dia a dia.