Antigamente era uma festa! Bem pouco democrática, é verdade. Com o tempo, o glamour foi sendo substituído por um ar mais despojado. Quando criança, me lembro de pessoas se arrumando para pegar seus voos.
Viajando desde muito cedo, mesmo com a paixão da minha família por viagens continentais em quatro rodas, era inevitável voar com relativa frequência.
Me recordo de usar sempre, ou quase sempre, roupas novas para viajar de avião. Copos estilizados, talheres de metal, menu para crianças e, algumas vezes, cardápio! Me lembro da expectativa que eu tinha sobre o que seria servido. Não, não estou falando de voos internacionais. Falo do bom e velho voo doméstico.
Os tempos de fatura gastronômica se foram. Deixaram apenas um rateio de saudade com água e amendoins. Cheguei – já no apagar das luzes do glamour da aviação civil – a desfrutar de happy hour na ponte aérea. Lembro também que existia um site chamado fly meals. Lá estavam os mais espetaculares pratos aéreos.
Hoje, surfo na onda do desbunde. Aquela criança arrumada deu lugar a um adulto que voa com frequência e quase sempre escolhe qualquer coisa que esteja vestindo na hora ou as peças mais confortáveis. Para os saudosistas elegantes que ainda trafegam pelos aeroportos, desfilo meu deboche com moletons, chinelos, bermudas e afins.
Peço perdão pelos choques que causo a tantas Senhoras dos Absurdos, mas sem comida, sem chiquê. E, enquanto a turbulência aqui do alto aumenta, eu escrevo agradecendo por um copo de coca e um biscoito horroroso.
[…] Busco Botero mundo afora, tudo no remoto, no virtual. Até desejo aquela água quente e aquele biscoito horroroso que nem é servido mais nos poucos voos que hoje decolam pelo […]
Eu já nem mais o biscoito peço