“Mas por que você quer ser professor?”
Juro que ouvi essa pergunta inúmeras vezes quando finalmente decidi o que eu queria fazer da vida profissionalmente. Sempre feita em tom de espanto, como se ser professor fosse uma coisa bizarra que ninguém em sã consciência decidiria fazer. Como se estivessem perguntando “mas por que você quer colocar um piercing nos genitais?”
De fato, hoje, após tantos anos de sala de aula, eu mesmo às vezes me pego pensando por que (ainda) quero ser professor. E aí eu poderia despejar todos aqueles clichês que todo mundo já conhece, de que é uma profissão pouco valorizada, que países avançados como Japão ou Finlândia têm um posicionamento diferente em relação aos professores, etc. Mas, decidi que seria muito chato fazer isso. Decidi que vou tentar seguir por outro caminho.
Na verdade, se a gente parar pra pensar, os problemas aos quais os professores daqui estão submetidos não são lá muito diferentes daqueles dos trabalhadores brasileiros de outras áreas: precariedade dos locais de trabalho, baixa remuneração, falta de material, chefes que cobram o impossível, “especialistas” que não fazem ideia de como funciona nossa profissão querendo nos dizer o que fazer. Seja lá com o que você trabalhe, pelo menos um item dessa lista você deve ter marcado.
A questão que me incomoda é que, por alguma razão, parece que o professor foi eleito o profissional inimigo número um da sociedade. Tudo o que fazemos é alvo de críticas, tudo o que reclamamos é visto como infundado. Existe até um ditado que diz “quem sabe faz, quem não sabe ensina”. Qual outra profissão tem isso? Só que, ao mesmo tempo em que todo mundo parece dizer que estamos reclamando de barriga cheia, ninguém quer vir segurar o rojão. Troca de profissão comigo durante trinta dias, topo qualquer uma, vamos ver quem pede penico primeiro.
Mas, voltando à pergunta, por que eu quero ser professor? Sei lá. Ainda não encontrei a resposta. Talvez seja para ver os olhos dos alunos brilhando quando eles finalmente associam alguma coisa do que estamos ensinando com algo que ocorreu na vida deles. Talvez seja para ver a satisfação em seus rostos quando conseguem resolver um problema usando o conhecimento que os ajudamos a adquirir. Eu sou professor de inglês, e garanto a vocês que não há satisfação profissional maior do que receber uma resposta em inglês, para uma pergunta feita em inglês, de um aluno que até bem pouco tempo reclamava que não entendia nada e que jamais conseguiria se expressar.
Talvez seja o sentimento de que a humanidade pode estar indo pro buraco, mas a culpa não é minha. Minha parte eu estou fazendo. Contra tudo e contra todos.