Pensamentos crônicos

O herói do varejo

Escrito por Brunno Lopez

Só o supermercado oferece o prazer de se percorrer corredores e observar pessoas, garantir aquela promoção de sabão em pó e ainda fazer da ida às compras uma crônica.

Toda e qualquer oportunidade que a vida me presenteia de ir ao supermercado é sempre digna de efusiva comemoração. É um dos ambientes mágicos dos quais não perdi a predileção, mesmo com a chegada daquele carrinho de compromissos que chamamos de vida adulta.

A atmosfera aprazível de ofertas aleatórias que interrompem o som ambiente, costumeiramente composto por versões jazz de sucessos internacionais, nos embalam pelas gôndolas dispostas com uma organização tão perfeccionista que fariam a Marie Kondo desejar fazer um curso intensivo nas imediações do estabelecimento.

Nada mais pitoresco do que criar avançadas teorias sobre a vida das pessoas baseando-se unicamente nos ingredientes que elas empilham em seus veículos transportadores de compras. 

Vinho e penne: Alguém terá uma noite interessante e úmida.
Refrigerante e potes de sorvete: Parece que teremos uma maratona de bad.
Picanha e cerveja: Pelo amor de Deus! Alguém avise que estão esquecendo o pão de alho? Conheci gente que abandonou o churrasco pela falta deste carboidrato recheado.

São incontáveis vibes circulando seus paraísos e infernos astrais num espaço perfeitamente climatizado. Você pode encontrar desde uma marca argentina de farinha até o amor da sua vida.

Seja nos frios, na padaria, no açougue ou na fila para degustar algum produto de graça, este é um dos poucos lugares onde somos apresentados à verdade daqueles que encontramos. Seres humanos se vestem para o trabalho, festas, clubes e academias, mas quando estão diante de uma liquidação relâmpago de cápsulas de Dolce Gusto ou Nespresso, a única vestimenta é a naturalidade da pechincha. 

Talvez, o único momento de desagrado social aconteça quando nos dirigimos ao caixa e presenciamos cenas de desvio grave de caráter representadas por indivíduos que desrespeitam o limite de 15 volumes do caixa rápido, passando o equivalente a uma compra de quem está esperando o apocalipse.

Mas, tirando este detalhe que está mais ligado à falta de bom senso humano do que de excelência supermercadista, o fato é que não existe lugar mais pitoresco, cativante e deliciosamente imprevisível do que este herói do varejo:

o SUPER mercado.

Me sinto salvo todas as vezes.

Sobre o autor

Brunno Lopez

Um ilustrador de palavras que é a favor de tudo que é do contra. Um publicitário que não faz propaganda.
Um otimista aposentado que dá um tapa nas costas da vida enquanto o resto do mundo a empurra existência abaixo.
Um compositor de letras cotidianas sob um violão desafinado.
Um desenhista de verbetes que tem muitas certezas sobre as próprias dúvidas e acredita que o amor não passa de um tapete mágico que sobrevoa as misérias humanas.

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