Admiro o gesto desesperado daqueles que passaram 334 dias assistindo à vida passar e agora vestem trajes esportivos para correr atrás do tempo. O pra depois virou pra ontem e o hoje já é tarde demais.
Enxugue as lágrimas com a última página do calendário, cheio de compromissos que você confirmou ausência.
Perdeu a chave da gaveta de planos incompletos que fez sob efeito de álcool no último réveillon. A contagem regressiva gritada em uníssono por desconhecidos fazia com que sonhos fossem mais uma obrigação do que um desejo simbólico de anseios inatingíveis.
Quantas décadas apenas cumprimentando segundas e domingos sem a menor intenção de saber como a semana tinha sido… Todas as datas eram irrisoriamente comuns, num looping construído por trivialidades, pasmaceiras e rotinas.
Não existe espaço para surpresas quando reverenciamos o marasmo disfarçado de segurança. O único papel principal é o de coadjuvante. Competentes protagonistas do mais ou menos.
Com nada pra se lembrar, alguns apontam o dedo na direção da sua cabeça e lhe acusam de memória fraca. Mas a verdade é que o pouco de recordação que existe, você prefere esquecer. Até aquele refresco de esperança que chega no amanhecer ébrio de um 1º de janeiro, durando exatas 24 horas, para se dissipar por completo no dia 2.