Pensamentos crônicos

Faça o que te faz bem

Escrito por Rose Carreiro

Não perca a empatia e não se aliene. Mas esqueça um pouquinho o mundo às vezes, e faça o que te faz bem.

O título dessa crônica pode ser um conselho furado, eu sei. Nem sempre podemos fazer só o que nos faz bem. Mas, nos dias que temos vivido, eu encorajo você a se colocar numa bolha e buscar fazer o que te faz bem. 

Há mais de um mês não vejo TV. Leio notícias na internet ou ouço o Durma Com Essa (podcast do jornal Nexo). Amigos às vezes comentam o que se passa no mundo. Procuro saber mais sobre os avanços nas áreas que me interessam: saúde e viagens. Não é sobre me alienar, é sobre passar menos raiva. Não abro mais o Facebook para ver parentes e conhecidos repetindo as frases do seu presidente

Procuro me concentrar nos meus problemas. Egoísta? Sim. Mas por instinto de sobrevivência. Minha vida emocional já estava no olho do furacão. Meu setor profissional foi, da noite para o dia, suspenso. Me vi amarrada a um mundo de quatro paredes, compras de supermercado a serem desinfetadas, e a pouca liberdade recuperada passou a envolver ser presa a uma máscara e a uma garrafa de álcool gel. Nunca consumi tanto álcool na vida – tanto no uso tópico quanto no interno. 

Calma. Não me afoguei na bebida, só passei a tomar aquela taça de vinho que promete milagres diariamente. Os milagres não vieram, minhas alergias explodiram novamente. Envelheci dez anos ou mais nesses últimos três meses. Mas pelo menos aceitei tudo isso um pouco mais relaxada. 

A pandemia segue, e eu segui com a minha vida. Virei a mesa no pior momento do mundo, mas foi o único momento possível. Graças à bolha da cidade em que vivo, consegui tocar alguns planos. Me dedico a isso: à vida nova. E aos pequenos prazeres cotidianos que me mantêm querendo continuar a viver. Comer, beber, dançar, ler, ouvir música. Escrever. Gravar vídeos com filtros idiotas do Instagram e enviar pra alta cúpula das amizades. Acordar cedo e ficar no sofá vendo o sol pela janela. 

Termino minha sessão de aconselhamento espiritual e comportamental aqui, sendo óbvia e repetitiva: não deixe de se cuidar. Não saia de casa se não precisar. Não se aglomere. Mas também não se permita sofrer pelo mundo o tempo todo. Às vezes, o melhor a fazer é não fazer nada. Ou fazer o que te faz bem.

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.

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