Relatório de Evidências

Baile de máscaras

Escrito por Mayara Godoy

Pra todo lado que eu olho, vejo máscaras. Mas o semblante das pessoas não é de festa. O que está acontecendo?

Hoje parei no posto de combustíveis próximo à minha casa para abastecer o carro, e o frentista sorriu para mim. Mas, após o milésimo de segundo inicial, eu pude prestar mais atenção e perceber que ele não estava sorrindo de verdade. Era uma máscara de pano que ele usava, com um sorriso estampado nela.

Saindo dali, fui ao supermercado. Lá, assim como o frentista, todos usavam máscaras. Algumas pessoas, mais discretas, usavam máscaras lisas. Outras ostentavam estampas coloridas e até espalhafatosas. Temas florais, petit pois, bichinhos, personagens de cartuns, tinha de todos os jeitos.

O rapaz que vende pano de prato no semáforo da esquina – de quem eu sempre prometo comprar mas nunca estou com dinheiro – também tem a sua.

O que está acontecendo?, questiono, quando percebo que meu próprio rosto também está coberto por um pedaço de pano xadrez, preso à minha cabeça por dois elásticos.

Pergunto-me se estou sonhando, ou se estou imersa num cenário de realidade virtual – ou, quem sabe, num cenário de filme?

Todos esses pensamentos percorrem minha mente através dos impulsos nervosos em milissegundos, enquanto procuro um trocado para dar à menina que vende rifas para pagar um implante ocular. A tristeza em seu semblante e o tecido puído que cobre seu pequeno rosto me puxam de volta à realidade.

E, subitamente, com a força de um soco no estômago, me dou conta de que, embora até haja um certo fashionismo envolvido, o que estamos vivendo está longe de ser um baile de máscaras. Está mais para o trailer de um filme de horror que eu não sei se quero ver o final.

Sobre o autor

Mayara Godoy

Palestrante de boteco. Internauta estressada. Blogueira frustrada. Sarcástica compulsiva. Corintiana (maloqueira) sofredora. Capricorniana com ascendente em Murphy. Síndrome de Professor Pasquale. Paciente como o Seo Saraiva. Estudiosa de cultura inútil. Internet junkie. Uma lady, só que não. Boca-suja incorrigível. Colunista de opiniões aleatórias. Especialista em nada com coisa nenhuma.

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