Canto dos contos Mesa de bar

Conto de bar pt III – O segundo dono.

Escrito por Leandro Duarte

[+18] Na terceira parte do Conto de bar, lhes apresento Joel, o segundo dono do glorioso Bar da Dona Dona. Preserva o mesmo ódio de Dolores, mas é um imbecil, esse filho da puta.

Se você ainda não leu a Parte I e a Parte II, faça isso antes de prosseguir.

Joel era um grande de um filho da puta.

Quem olha aquele velho frouxo com cara de bobo atrás do balcão do seu boteco, o do bar da Dona Doca, mal sabe o quanto esse sujeito pode ser sujo.

Esse maldito conheceu o bar da Dona Doca em meados de 1991, na época viera trabalhar na construção um prédio residencial que seria erguido a duas quadras do bar da Dona Doca. O bar ficava em seu caminho entre o ponto de ônibus e a obra, ele não ia embora antes encher a cara e vomitar a porra toda no banheiro do bar da Dona Doca.

Aquele Bosta largava o serviço às 17h30, e antes das 18h já dava trabalho no bar.

Cansada de limpar o vômito do merdinha do Joel das paredes do banheiro do bar da Dona Doca, Dona Doca resolveu contratá-lo para limpar o banheiro. Genial! Adoro como funcionava a cabeça daquela velha, nada mais óbvio que isso. Temos um problema. Por que não fazer com que o causa desse problema vire a solução?

Dona Doca queria mais que uma solução para um banheiro vomitado, queria vingança. Ofereceu a Joel o mesmo salário da obra, e a única função dele era manter o banheiro limpo, apenas isso. Simples e fácil, muito melhor que carregar saco de cimento nas costas.

Joel aceitou sem pensar, negociou apenas que poderia tomar cachaça e bater nas putas em horário de trabalho, e esta justa reivindicação foi prontamente atendida pela bondosa Doca. Era o emprego dos sonhos, Joel finalmente teria a oportunidade de desenvolver seu maior talento: beber e bater em putas.

Como parte de sua vingança, a própria dona Doca fazia questão foder com aquele banheiro, fechava o registro para que ninguém mandasse embora a obra ali realizada. Tirou o cesto de lixo para que o lixo fosse jogado no chão. Ela pagava o valor de um boquete (a cotação variava de acordo com a profissional) para que as putas que não podiam trabalhar por estarem menstruadas colorissem o chão do banheiro de vermelho.

Apesar de ser um bosta, Joel sempre foi subserviente, aceitava toda condição imposta pelo prazer de beber cachaça e bater em puta.

Joel não tinha família. O mais próximo disso foi um noivado na juventude. Sua noiva não tinha nenhuma vaidade, sei lá o nome da desgraçada, mas era mulher de verdade. Joel a tirou da casa da avó, prometeu o céu para a coitada. Três meses depois, quando deu a Joel a incrível noticia de que teriam um bebê, foi espancada e proibida de sair na rua até ‘resolver este problema’. Eu imaginava que esse merda faria o que qualquer homem de verdade deve fazer, abandonar mãe e feto à sua própria sorte, mas não.

Com 6 meses de gravidez, a noiva que era mulher de verdade manchou de cândida uma velha camisa de Joel. Apanhou como nunca, com cusparadas e pontapés no abdome, Joel arrancou sangue da boca e da intimidade da moça, muito sangue. Problema resolvido.

Joel bebia de graça, batia em putas de graça, o puto não tinha com o que gastar seu salário e após 3 anos limpando merda de bêbado com uma escovinha de mão e sem luvas, (brilhante ideia da maravilhosa Doca) havia acumulado dinheiro suficiente para comprar todo o estoque de cachaça e torresmo do Bar. Após a catastrófica morte de Dona Doca, Joel investiu tudo que tinha para assumir o ponto que, com muito suor, dona Doca havia enchido de velhos, putas e operários.

Durante o velório da doce Dolores, Joel mal conseguia esconder a excitação e alegria pela morte da velha.

Um garoto que vendia bala no ponto de ônibus em frente ao velório municipal tocou o ombro de Joel e disse:

_ Joel, o Diabo vai te acompanhar todos os dias, ele será dono daquilo que você acha que é seu, ele vai te foder em verde e amarelo. Tudo à sua volta ira feder a bode molhado, seu lixo.

O garoto virou as costas e correu em direção ao ponto de ônibus em que trabalhava. Parou uma viatura, dois policiais desceram e tomaram as balas do garoto, ele tentou resistir e chutou a canela do policial mais jovem. Foi lavado para os fundos do velório municipal, colocado de joelhos contra a parede. A mãe do pivete nem precisou transferir o corpo para velar, o caixão precisou ser lacrado.

Joel conheceu o Diabo, e de certa forma se afeiçoou a ele. Mas o Diabo, parceiro, é comunista e de certa forma amava as putas. Quem acha que sofreu na vida não faz ideia do que o Diabo fez a Joel.

Vocês me entenderão assim que conhecerem o Diabo.

Sobre o autor

Leandro Duarte

Leandro, 33 anos, ganha a vida em projetos e TI, talvez por isso sem a menor paciência para toda essa bobagem nerd e cultura pop. Em resumo, inadequado. Grande demais para a poltrona do ônibus de todos os dias.
Pequeno demais para sorrir de tudo. Velho demais para um banho de chuva; muito novo para temer o resfriado. Direto demais para a palavra escrita, e de menos para se fazer compreender. Humano demais para viver de tecnologia. Humano de menos para largar tudo. Comunista demais para os dias de hoje. Comunista de menos para o que é preciso ser feito.
Mesmo inadequado, segue peleando. Como era de se esperar, falhando miseravelmente.

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