Não estou falando do golfinho. Nem do Carlos Alberto Ricelli. Me refiro aqui à conjugação do verbo botar. Eu boto. A vida toda, eu falei que ia botar alguma coisa em algum lugar, e nunca fui discriminada por isso. O verbo existe, pode procurar no dicionário. Ou no Google. Botar é uma ação e uma necessidade do ser humano. No aconchego do seu lar, em público, entre amigos. No supermercado, na mesa de jantar, no próprio corpo. Todo mundo está sempre botando algo em algum lugar.
Mas, foi aí que fomos surpreendidos novamente – e eu vim para o Paraná. Ah, meu Paraná! Onde uma inocente frase construída com o “botar” se transforma num ultraje. Botar parece ofender, macular os orifícios gramaticais e auditivos dos paranaenses. Aqui, você coloca, você põe. Botar, não. Quem bota é galinha.
Depois de uma vida toda botando, de repente me vi destituída do meu direito de botar. Usar o “eu boto” se tornou motivo de preocupação, de estado de alerta em meus discursos cotidianos, já que tal humilde verbo causa constrangimento nos ouvintes. O Paraná me removeu o prazer de botar. Virei uma pessoa obrigada a colocar.
Hoje, tentando me manter autêntica e fiel às minhas vontades, eu voltei a usar o botar. Até o Luis Fernando Verissimo bota nos textos dele, por que eu não posso botar na minha vida? E boto com gosto. Encho a boca pra falar que vou botar, porque não tem nada de errado com isso. Digito fazendo som com o teclado, porque aprendi a escrever na máquina, enquanto me dou o prazer de acrescentar variadas conjugações do botar nesta crônica. Eu boto, tu botas, todos botam.
Se você coloca, experimente a delícia de botar. Acatando o conselho de Nathalia Karl e do Roxette, eu estou ouvindo meu coração. Me libertei das amarras que me fazem colocar. Sigo botando.
Bota pra quebrar e bola pra frente.
Tu esqueceu de escrever outro ícone: FUGÃO nesse texto.