Tristes são aqueles que não tiveram a oportunidade de ver ao vivo, seja pessoalmente ou pela televisão, as jogadas geniais de Diego Armando Maradona. Bendita seja a internet, o YouTube da vida, que disponibiliza grande parte desses materiais para podermos assistir quando bem entendermos. Faço parte desse segundo grupo.
Maradona era 8 ou 80. Ou você o idolatrava e o admirava ou o odiava, seja pela rivalidade especialmente alimentada entre Brasil x Argentina, ou por seu comportamento fora de campo, sempre polêmico. Pergunto: quem é que consegue ser perfeito nos dias de hoje?
Dentro de campo, Maradona se aproximava da perfeição. Há quem diga que ele deveria ter sido convocado ainda na Copa de 1978, diante da torcida, quando teria a chance de conquistar o seu primeiro Mundial, aos 17 anos, da mesma maneira que Pelé conquistou 20 anos antes, em 1958. Não aconteceu porque a Copa de Maradona foi mesmo a de 86, no México.
Ali ele se sobressaiu. Dava dribles, passes, marcava gols. Foi assim contra Itália, Inglaterra, Bélgica, Alemanha. Contra os ingleses, um marco. País recém-saído do conflito pelas Malvinas, ânimos à flor da pele. Teve o gol de mão, La Mano de Dios que o árbitro poderia ter anulado e não o fez. Culpem o árbitro, não Maradona. Mas esse gol nem fez falta, porque o seguinte foi uma obra de arte. Do meio-campo para a grande área, foi passando por todos os adversários, levando narrador argentino às lágrimas. Era mais que um gol, era um grito de revolta guardado por anos, era cada gota de sangue de seus conterrâneos derramado naquela batalha desnecessária.
Quatro anos depois, em 1990, ajudou a eliminar o pragmático Brasil treinado por Sebastião Lazaroni nas oitavas de final. O tricampeonato argentino não veio, os alemães deram o troco. E em 94, quando parecia que teria uma despedida digna da seleção, veio o antidoping. Medicamento para emagrecer coletado no exame. Suspenso e fim de Copa do Mundo. Dava início aí ao fim de sua jornada nos gramados, encerrada três anos depois, no amado Boca Juniors. Uma jornada de muitas glórias, sendo uma das mais bonitas a passagem pelo Napoli, da Itália. Clube até então coadjuvante no futebol italiano, e que graças a Maradona e seus colegas brasileiros, Careca e Alemão, foi alçado ao cenário nacional. Dois Campeonatos Italianos, uma Copa da UEFA, uma Copa da Itália, uma Supercopa da Itália. A trajetória foi encerrada por problemas com drogas e a Justiça italiana.
Elas sempre acompanharam a vida do jogador e ele não escondia isso. Aliás, Maradona nunca escondeu nada. Desde suas posições políticas, sempre voltadas para a esquerda, como costuma ser para quem veio de uma vida com muitas dificuldades. Era amante da dança e da música, de vários estilos. Do rock ao samba. Sim, adorava passar carnavais no Brasil e já se encontrou com as bandas Queen e Oasis, só para citar duas delas.
Você pode até não ter gostado de Maradona, mas não pode negar a importância que ele teve para o esporte. O mundo do futebol, com sua linguagem tão universal, fica triste pela segunda vez. A primeira, quando Maradona se aposentou. Nascia ali o Maradona torcedor, dos camarotes de La Bombonera. A segunda tristeza é nessa despedida precoce, aos 60 anos. Para quem o tinha como Deus, com direito a igreja e tudo, Maradona seguirá imortalizado na memória daqueles que tiveram o privilégio de poder vê-lo jogar. No final das contas, é isso que acontece com pessoas geniais. Ficam eternizadas em seus legados.