Eu adoro comida japonesa. Por acaso, eu também adoro comida árabe. E, por acaso, eu também adoro comida mexicana. Além de deliciosas, essas três culinárias internacionais ainda têm uma outra coisa em comum: um bando de gente que fica reclamando que elas não são “verdadeiras”.
Já desisti de contar as vezes em que disse “adoro comida japonesa” e ouvi como resposta algo como “essa comida não tem nada de japonesa, se você for no Japão, a comida deles é completamente diferente”. E, cada vez que alguém me responde isso, menos eu me importo se isso é verdade ou não, e mais eu acho que essa gente é chata demais.
Pra mim, parece óbvio que a culinária de um país dificilmente será reproduzida perfeitamente em outro, por dois motivos: primeiro, alguns ingredientes podem ser raros e caros demais para viabilizar o funcionamento de um restaurante; segundo, o paladar de cada povo é diferente. No cardápio do KFC dos Estados Unidos, por exemplo, não tem farofa, assim como nos restaurantes de comida japonesa daqui não tem aquele ouriço molenguento que mesmo em Tóquio custa uma fortuna. Assim como um restaurante de comida chinesa não vai servir gafanhoto frito, me parece perfeitamente normal que a comida mexicana servida aqui seja diferente da servida no México, de forma que a verdadeira pergunta que fica é: que diferença faz?
“Ah, mas os japoneses podem se ofender”. Amigo, japonês come Pringles sabor alga marinha, e não me consta que os norte-americanos se ofendam com eles. Ofensivo, pra mim, seria levar um japonês num restaurante de comida japonesa, achando que isso é a única coisa que ele come; o simples fato de existir um restaurante que diz servir comida japonesa quando na verdade serve uma comida que se parece com a japonesa não deveria ofender ninguém. Aliás, eu fico imaginando qual tipo de descrição esses defensores da comida puro-sangue gostariam que esses restaurantes usassem. Provavelmente algo no estilo “Tokusatsu – comida que parece japonesa” ou “Arriba – comida que lembra vagamente a mexicana”.
Se você gosta de comida japonesa, mexicana, árabe, italiana, indiana, ou daquele trudel lá do Leste Europeu, pode comer a que é servida aqui no Brasil mesmo, não precisa viajar até o outro lado do mundo (a menos que você queira, aí é outra história). Se não gosta, por favor, não coma, mas também não fique enchendo o saco de quem quer comer. Comida é comida, não interessa o nome, só o que importa é o sabor. Afinal, no México as paletas mexicanas se chamam paletas brasileñas, e ninguém começou uma guerra por causa disso.