Uma triste realidade é que as pessoas não sabem lidar com números. Nem aqui, nem em lugar nenhum. E não é questão de aprender, é que números são construtos artificiais para lidar com quantidades, que são naturais. Nossos cérebros lidam bem com quantidades, não com números. Por exemplo, se você vê um produto qualquer vendendo a R$ 14,90, é muito mais fácil você pensar que ele custa 14 do que pensar que ele custa quase 15. É por isso, inclusive, que quase nada tem preços inteiros, e quase tudo tem preços que terminam em ,90 ou ,99.
A coisa piora bastante quando os números são grandes. Se alguém fala “cinco maçãs”, a gente tem uma ideia perfeita do que é. “Cinco mil maçãs” já é um pouco mais difícil de imaginar. “Cinco milhões de maçãs” é quase impossível. Para números grandes, a gente costuma usar artifícios: 500 pessoas são um avião lotado, cem mil pessoas são um estádio de futebol, 20 milhões de pessoas eu duvido que alguém consiga imaginar com exatidão quanta gente é. Não é questão de burrice, de não ter aprendido direito, mas de falta de referência, já que a gente raramente consegue ver quantidades gigantescas de alguma coisa assim ao vivo na nossa frente.
Como se já não bastasse essa confusão toda, ainda tem a tal da porcentagem. 1% é pouco, 90% é muito, ninguém discute isso. Se alguém perguntar se você quer um desconto de 10% ou de 50%, claro que você quer o de 50%. Se alguém te oferecer duas opções de empréstimo, uma com juros de 2%, outra com juros de 10%, é claro que você quer a de 2%. A questão aqui é que a porcentagem não é um número solto, ela é um percentual de alguma coisa. 1% da população brasileira são 2 milhões de pessoas. É pouco? Mais uma vez, referências.
E ainda tem os pesos e medidas. Você sabe dizer com certeza quantos kg de carne precisa comprar pra um jantar com cinco pessoas? Quantos litros de cerveja praquele churrasco? A quantos metros da sua casa fica o supermercado mais próximo? Quilos e litros a gente aproxima, compra “um montão” e fica com o que sobrar, distâncias a gente “mede em tempo” – levo dez minutos daqui ao mercado. E por quê? Isso mesmo, referências.
Números sem referência não são nada. Se eu falo “um pacote de 5 kg de arroz”, você sabe o tamanho que ele tem, mas, se eu digo “250 mil grãos de arroz”, você não vai imaginar o mesmo pacote, talvez até imagine que é muito mais. Talvez seja a hora de algumas pessoas perceberem esse problema, e traduzir alguns números que estão surgindo dia após dia, e que, para a maior parte da população, não significam absolutamente nada.
[…] esses números, na prática, significam apenas que a gente precisa de marcos temporais para administrar a nossa […]