Todo e qualquer discurso, por mais milimétrico e bem arranjado que seja, nunca será capaz de soar fiel à existência puramente inenarrável desse ser de seis letras mas que ressoa como alfabetos inteiros.
Ninguém pode ousar descrever sua natural complexidade ou sua intrínseca simplicidade. Qualquer tentativa de desenhar suas lutas, caracterizar seus anseios e ilustrar suas virtudes será uma reunião de páginas incompletas. Meros registros pretensiosos e vagos de alguém que transcende definições.
Estamos diante de um muito. De um bastante. De um harmonioso exagero irresistível que não merece nada menos do que superlativos. De um colosso de cabelos longos, médios, curtos ou raspados que não descansam.
Estamos encarando alguém que recebe dedos indicativos de julgamento por 24 horas ininterruptas, que além de carregar o mundo nos ombros ainda precisa carregar um sorriso no rosto. Estamos olhando pra alguém que precisa se preparar pra se defender antes mesmo de poder simplesmente se expressar.
Estamos vendo alguém que não tem tempo de celebrar suas vitórias pois questionam o mérito de suas conquistas. O tamanho de seus manequins. A altura de seus tons de voz.
Impossível fazer o exercício de entrar em suas dermes e epidermes para sentir o que vocês são. Para experienciar seus labirintos próprios de emoções infinitas. Para aprender a usar seus pesados escudos feitos com cicatrizes de decepções.
Todas as poesias do universo não são capazes de atenuar a marca das injustiças. Rimas pobres ou ricas não reconstroem aquelas que nasceram em pedaços e passam a vida inteira se remontando.
Mas mesmo nesse cenário desleal, essas mães, filhas, irmãs ou namoradas não sucumbem aos caminhos e fazem os seus próprios destinos. Pois elas são a conjugação mais poderosa do verbo ser:
Elas são mulheres.