Divã-neando Pensamentos crônicos

Eu não sou pra casar!

Escrito por Patrícia Librenz

Às vezes, eu desconfio que alguns homens procuram uma empregada doméstica, sem custos e com benefícios, e não uma parceira.

limpezaJá tive a experiência de um relacionamento duradouro, no qual, por longos (quase) 7 anos, entre idas e vindas, dividimos o mesmo teto. Alguns chamam isso de casamento, outros de união estável… eu preferia chamar de “união instável”. Nesse período, pude constatar que eu não fui criada para ser a esposa perfeita.

Por um tempo, até me esforcei para ser aquela esposa dos tempos das nossas avós, que faz comida e deixa a casa sempre brilhando, mas era um sacrifício tão grande, que me frustrava imensamente por ter que fazer aquilo tudo sozinha. Só eu lavava a louça, só eu tirava o lixo pra fora, só eu limpava a caixa de areia dos gatos e o banheiro da cachorrinha, só eu trocava as roupas de cama, só eu limpava o chão, só eu lavava as roupas (inclusive as dele! – que ainda reclamava quando elas demoravam a reaparecer no roupeiro).

Só eu, só eu, só eu! E eu, sempre muito questionadora, indagava em nossas “DRs” – “por que só eu tenho que fazer essas coisas?”. Por quê, caros leitores?

Às vezes, eu desconfio que alguns homens procuram uma empregada doméstica, sem custos e com benefícios, e não uma parceira. Justamente por isso, eu digo que eu vivi uma “união instável”: nesses anos todos, as brigas, motivadas pela não divisão das tarefas domésticas, eram constantes e desgastantes. Muita gente diz: “Ah, mas esse é o menor dos problemas em um relacionamento” ou, ainda (eu adoro esta): “Homem é assim mesmo”. Bom, eu acho que o problema é muito mais profundo do que deixar a sua louça suja na pia para o outro lavar: sobrecarregar outra pessoa com coisas das quais ela não gosta de fazer é não ter consideração alguma por ela. E esse é o ponto! Falta respeito quando se age assim.

As mulheres de hoje não querem mais ser como suas avós – e não somos! Hoje em dia, trabalhamos fora, dividimos a conta do restaurante, pagamos metade das contas da casa, queremos fazer mestrado e doutorado e necessitamos de tempo para ir à academia. É inadmissível termos dupla rotina!

Uma mulher que paga suas contas sozinha, tem um bom emprego, muitos amigos e dirige seu próprio veículo não vai aceitar ser a empregada doméstica na vida de ninguém – nem deve aceitar isso! Não fomos criadas para essa vidinha medíocre.

O problema é que nossos pais, os mesmos que criaram essas mulheres incríveis, que não estão no mundo para se submeter à vontade de homem algum e que, portanto, têm muito mais autoestima do que suas mães e avós, ainda criam os filhos homens como verdadeiros bunda-moles, que não sabem fazer nada dentro de uma casa e esperam que suas esposas/namoradas/companheiras sejam a extensão de suas mães. A maioria dos pais deseja, para o seu filho, uma nora que seja o oposto de sua filha, e que seja totalmente dedicada a ele, a casa e à família.

Então, rapazes, deixa eu lhes contar uma novidade agora: nós não somos a porra da sua mãe! Não temos a obrigação e, tampouco, queremos assumir o papel da pessoa que vai fazer tudo para você dentro de casa. Então, acorda, querido… desperte para a vida. Como? Que tal começar sendo menos babaca?

Eu, por exemplo (e sei que posso falar por mim e por mais uma dúzia de amigas solteiras), simplesmente não tenho a menor vocação para abrir mão da tranquilidade, liberdade e tempo livre que tenho hoje para ficar me preocupando com a roupa limpa e/ou arrumando a bagunça de outra pessoa (adulta, diga-se de passagem!).

Se um homem me quiser, ele terá de ser muito incrível e desapegado desses valores familiares para conseguir ficar comigo, porque eu não faço o tipo “namorada dedicada”, que limpa o seu apartamento enquanto você assiste a uma partida de futebol na televisão.

Saí daquele casamento com um defeito seríssimo: eu só consigo retribuir aquilo que recebo. Não dou mais, nem menos do que me dão. Se um homem deixar de demonstrar que se importa comigo (e, sim: esperar que eu faça por ele algo que ele não faz por mim é não se importar), eu perderei o interesse rapidamente.

É por essas e outras que digo que, definitivamente, “não sou pra casar”! Não com um homem tradicional…

Sobre o autor

Patrícia Librenz

Mãe de dois gatos, um autista e outro que pensa que é cachorro. Casou com um veterinário, na esperança de um dia terem uns 837 animais. Gaúcha no sotaque, pero no mucho nos costumes. Radicada em Foz do Iguaçu desde 2008, já fez mais de 30 mudanças na vida. Revisora de textos compulsiva, apaixonada por dicionários. A louca do vermelho. A chata que não gosta de cerveja. A esquisita que não assiste a séries. Dona da gargalhada mais escandalosa do Sul do Mundo. Mestra em Literatura Comparada, é fã de Machado e Borges, mas ignorante de Clarice Lispector e intolerante a Paulo Coelho. Não necessariamente nessa ordem.