Todos temos, pelo menos em parte de nossa infância ou adolescência, certo apego pela diferença. Em certo tempo de nossa formação, existe um prazer em ser do contra. Um tesão obscuro e inexplicável em se posicionar de um modo diferente. Deve fazer parte da busca por atenção, afirmação, ou até do amadurecimento, não sei.
Ocorre que algo que deveria ser passageiro, assim como a “adultescência” daqueles que querem ser jovens para sempre, permanece. Como tudo aquilo que dura mais tempo do que deveria, cria-se uma espécie de mofo, um tipo de azedo por algo que se conserva fora do tempo e do espaço adequado.
Essa versão 2.0 do “do contra” geralmente se afasta dos 2.0. Troca o seu período de amadurecimento pelas fases infinitas de uma imaturidade tardia. É o tipo da galera que acha que os 20 são os novos 30 pra ter uma desculpa bacana pra seguir pela trilha de uma vida irresponsável, principalmente com a coerência.
O contorcionismo ideológico dessa trupe – e não estou falando especificamente de política – reina. Tudo é motivo para que a opinião mais polêmica ou mais contrária apareça. Às vezes, a impressão é de que isso é feito por esporte, como uma criança que se joga no chão fazendo cena ao ser contrariada.
Ainda que sem maturidade, a bagagem da vida dá algum material a esse povo. O enxerto do discurso, ainda que vazio, permite que conversas se prolonguem. O que espanta é a facilidade do tipo em tirar conclusões precisas com base no mero achismo. Em uma espécie de yoga dialética, se esforçam para que seu ponto de vista pareça sempre vencedor. Mesmo que para o atingimento desse fim seja preciso descolar de algum tema inicial ou razão. Assim como o desesperado pelo “like” nas redes sociais, esse jovem tardio quer “biscoito”.
Não é preciso ter razão, discurso ou argumento, ele só precisa se sentir certo e vencedor.
Enquanto enche sua barriga com o vazio, eu sigo de saco cheio.