Pensamentos crônicos

In The End, o último álbum dos Cranberries

Escrito por Rose Carreiro

Os Cranberries chegaram ao fim, com a morte da vocalista Dolores O’Riordan. E o álbum lançado postumamente, In the End, é carregado de significados.

O título do último disco dos Cranberries carrega mais sentido e pesar do que a definição do termo em si. Lançado em 26 de abril, In The End foi também a última obra de Dolores O’Riordan, minha cantora favorita, que nos deixou em janeiro do ano passado, e da banda, que decidiu não continuar sem ela.

O trabalho começou em meados de 2017, quando Dolores e o guitarrista Noel Hogan escreveram as letras e gravaram as demos. As músicas foram finalizadas pela banda com a permissão da família de Dolores. O álbum traz músicas que, com letras profundas e fortes, seriam um reflexo de uma nova fase da vida da cantora. Relacionamentos que chegam ao fim, brigas, o passado, ilusões… são várias as faixas com versos que remetem ao fechamento de um ciclo, a estar perdida, à chegada do fim. Mas a morte de Dolores deu a essas canções um novo significado.

Demorei a escutar In The End. Na verdade, soube ouvindo o podcast Silêncio no Estúdio que o disco sairia no final de abril, e já estávamos em maio. Desde então, o álbum não sai dos meus favoritos e, confesso, ainda mexe bastante comigo.

Eu me lembro exatamente como me senti quando coloquei os fones e ouvi a voz da Dolores. Parecia um sonho, em que eu sentia presença de alguém que eu amo, mesmo depois de tê-lo perdido faz tempo. E também foi como se tivesse acabado de saber que a Dolores tinha morrido de novo. Passei de faixa em faixa, elegi minhas prediletas, terminei o disco e fui pro banheiro chorar. Não preciso dizer que só de escrever isso – ao som de Catch Me If You Can – as lágrimas já embaçam meus olhos.

Numa das minhas muitas tentativas de falar sobre esse disco (e, acredite, eu tentei muito escrever assim que o ouvi), decidi fazer uma singela homenagem à banda e tatuei seu nome. O inusitado disso foi que eu postei a foto nos meus stories do Instagram e me perguntaram: jura que você gosta tanto assim da banda? A resposta é mais do que sim, porque o que os Cranberries me trazem de sentimentos e memórias está além de gostar deles. Quando alguma forma de arte nos conecta com a nossa vida, de alguma forma, ela vira um pedaço nosso.

Eu poderia tentar falar sobre a musicalidade do álbum, sobre a sensibilidade que pode ser notada em notas de piano, e nos sons característicos dos Cranberries na guitarra, ou sobre como os integrantes da banda foram maravilhosos em conseguir finalizar o trabalho que Dolores deixou – e merecia ser lançado. Mas, no final das contas, só posso escrever sobre como me sinto ao mesmo tempo privilegiada por poder conhecer essas últimas músicas, mas ainda extremamente triste por saber que nunca mais ouvirei nada novo com a voz da Dolores, e arrisco dizer nada tão marcante quanto suas canções foram em momentos felizes pra mim.

Por toda a história que The Cranberries e Dolores têm nas minhas lembranças, ainda é muito difícil aceitar o fim. Então, deixo aqui alguns versos da faixa-título, que encerra o álbum com todo o significado que ele tem.

Não é estranho
Quando tudo que você queria
Não era nada do que você queria
No final
Não é estranho
Quando tudo que você sonhava
Não era nada do que você sonhava
No final?

Ouça In The End: https://cranberries.lnk.to/InTheEndID

Sobre o autor

Rose Carreiro

Nascida num 20 de Outubro dos anos 80. Naturalmente petropolitana, com passaporte carioca. Flamenguista pé frio e expert em não se aprofundar em regras esportivas. Fã de Verissimo – o Luis Fernando – e Nelson, o Rodrigues (apesar de tudo). Poser. Pole dancer com as melhores técnicas para ganhar hematomas. Amadora no ofício de cozinhar e fazer encenações cômicas baratas. Profissional na arte de cair nos bueiros da Lei de Murphy.