Ele era filho do meio.
Nasceu ao meio-dia, no dia 2 de julho, bem no meio do ano (tem 182 dias antes e 182 dias depois). Nem pra lá, nem pra cá.
Na maternidade, ficou no bercinho do meio, entre a porta e a janela.
Não chorava muito, nem pouco. Só o suficiente.
Na escola, sentava ali no meio da sala. Não era bagunceiro da turma do fundão, nem CDF que sentava lá na frente.
Suas notas? Passava sempre ali, na média.
Teve algumas namoradas durante a vida. Nem muitas, nem poucas.
Nenhuma muito bonita, ou muito feia. Mas todas eram do jeito que ele gostava.
Seu trabalho era honesto e dava um salário mediano.
Nada que o deixasse rico, mas nem que o fizesse pobre. O extrato da classe média.
Tinha um apartamento simples, num bairro perto do centro, entre um condomínio nobre e a favela.
Já velhinho, sentado na sua poltrona, ele deu um sorriso meio de lado e pensou:
– Ê, vidinha mais ou menos…
E assim fechou os olhos pela última vez. À meia-noite.