Eu, que nem gosto de futebol, esta semana decidi tocar nesse assunto. Mas a pauta não será o Campeonato Brasileiro em si, e sim a violência nos estádios. A polêmica do momento foi protagonizada entre torcedores de dois times gaúchos e o fato aconteceu em Porto Alegre, no estádio do Beira-Rio.
Era dia de Gre-Nal e uma mãe só queria levar seu filho para ver o jogo. Afinal, era fim de semana. Mãe e filho estavam passeando e curtindo o tempo juntos. Por motivos que ainda não se conhece e que também não importam agora, essa mulher, torcedora do Grêmio, assistiu ao jogo na ala reservada à torcida colorada.
O Inter abriu o placar do clássico gaúcho, mas o Tricolor empatou logo em seguida. A torcedora e seu filho comemoraram na arquibancada e ela sacudiu a camisa do Grêmio como se fosse uma bandeira. Um erro considerado fatal pelos demais torcedores, mas vamos pensar friamente: será que isso é tão grave assim a ponto de justificar uma agressão?
Não demorou muito para que torcedores colorados a escurraçassem dali. O que chama a atenção na cena é a falta de empatia, pois a agressão à mãe partiu de outra mulher, que não demorou muito para receber reforços de outros torcedores igualmente raivosos e violentos. Simplesmente injustificável – afinal, era mesmo muito necessário usar força bruta, pois uma mulher com a camiseta de um time adversário e uma criança representam uma ameaça terrível em um estádio, né? [contém muita ironia].
Quero chamar, aqui, a atenção para o fato de o futebol ser um esporte que existe para proporcionar momentos de alegria e descontração. Essa mãe levou seu filho para passear, para se divertirem juntos, e essa criança presenciou uma barbárie. O menino ainda tentou impedir que a mãe fosse agredida, mas o “guri” só conseguiu chorar diante de sua fragilidade e impotência perante a truculência humana.
A ironia disso tudo? A agressora colorada, que além da agressão tomou a camisa tricolor da adversária para si, usava um cachecol escrito: “ANTIFASCISTA”. À mãe, não restava fazer nada, a não ser se retirar, sob o risco de ser linchada.
Eu poderia simplesmente encerrar esta reflexão concordando com Jorge Luis Borges, o escritor argentino, que disse que “o futebol é popular porque a estupidez é popular”. Mas eu não concordo totalmente com Borges. A essência do futebol é boa; a essência do futebol não é transformar rivalidade em intolerância; a essência do futebol é proporcionar prazer, lazer, emoção. E o que é esporte deve ser levado na esportiva. O ser humano é que tem essa maldita mania de estragar tudo que mete a mão.
O Inter empatou em campo, mas perdeu de goleada com esse exemplo de incivilidade nas arquibancadas, cujo ato ainda foi endossado por alguns torcedores fanáticos, alegando que a torcedora tricolor estava no lugar inadequado (admitindo que são uma torcida violenta e que o estádio não é um lugar seguro e de gente civilizada). Vivemos tempos sombrios. A humanidade parece estar regredindo às cavernas. E, infelizmente, não é apenas no futebol.
Créditos da foto: Jornal O Globo.